sábado, 31 de maio de 2008

Parque do Utinga

O Parque Ambiental de Belém ou Parque do Utinga, criado em outubro de 1993, é um complexo que abrange os mananciais das águas que abastecem a cidade de Belém do Pará. Esses mananciais; compostos por um sistema de lagos (Bolonha e Água Preta), rios (Guamá e Aurá) e pequenos igarapés (Água preta, Utinga, Murutucu e Buiussuquara); integrados ao entorno florestal, ocupam uma área aproximada de 1340 ha.
O Utinga pode ser visitado pela população entre seis da manhã e seis da tarde. Há um batalhão de Polícia Florestal sediado no parque para fiscalizar e orientar visitantes e moradores da vizinhança sobre a preservação desse "santuário" ecológico.
A Companhia de Saneamento do Pará — COSANPA — é responsável pelo bombeamento das águas do rio Guamá aos “reservatórios” Bolonha e Água Preta e pelo sistemático tratamento à potabilidade no acúmulo fluvial e pluvial desses dois lagos.
A COSANPA, em seu site
http://www.cosanpa.pa.gov.br, afirma que investimentos da Caixa Econômica Federal e do Governo do Estado propiciarão melhoria técnica à expansão dos serviços e que haverá duplicação no abastecimento de água à Belém.
Que bom que isso seja verdade e dê certo, porque hoje, a água distribuída pela COSANPA, quando consegue sair da torneira, é pura ferrugem — o que não faz nenhum bem à saúde e às roupas.
O site da COSANPA, apesar de fazer “consulta nos arquivos do Centro de Documentação da Cosanpa”, é extremamente pobre ao revelar a "história" da Companhia:
Uma das poucas informações relevantes nele encontrada:
“E em Abril de 1885 foi terminada a obra que hoje é um marco histórico do saneamento em Belém: o reservatório de São Brás conhecido como a Caixa d'Água de São Brás, construído de forma cilíndrica com capacidade de 1.570 .000 litros, feito de ferro forjado e sustentado por colunas de ferro fundido.” (http://www.cosanpa.pa.gov.br/historico.asp)
Quantos dados textuais e imagéticos esse Centro de Documentação possui? Garimpá-lo não seria a melhor solução — uma parceria da COSANPA com o curso de História da UFPA não resolveria esse problema? O registro público de sua memória propiciaria maior credibilidade aos serviços por ela prestados. Espertem-se diretoria e presidência!

No dia 27 de maio de 2008 o Blog fez alguns registros imagéticos do Utinga — precários pela falta de equipamentos e pessoal especializado — com algumas descrições da “expedição”:

Essa grande área verde entrelaçada por vias de asfalto, terra batida, areia, lama, bloquetes, humos...é um dos locais aprazíveis de Belém e pouco usufruído pela maioria da população que poderia exercitar-se em caminhadas e trilhas, educar-se ambientalmente, participar de ações sobre o meio-ambiente, etc.
A limpeza da margem do Bolonha, fronteiriça à estrada do Utinga, está quase concluída, o que voltou a permitir uma visualização ampla desse lago — vide videoclipe 02.
Já o lago Água Preta, bem maior que o Bolonha, está totalmente escondido pelas árvores que cresceram em sua orla — muruci e ajuru — e do lado posterior a via de acesso, que é pavimentada com bloquetes — vídeo 04.
A estrada da Moça Bonita, em seu trecho compreendido entre a avenida CEASA e o lago Bolonha, é apenas uma trilha; o que é comprovado pelo primeiro vídeo.
No sentido lago Bolonha/bairro da Guanabara, a estrada da Moça Bonita está sendo alargada, recebendo terraplenagem em piçarra; contudo, como se pode comprovar no videoclipe 03, não seria possível transitar por ela em automóveis de passeio.
Não tivemos acesso à estação de bombeamento que fica na margem do rio Guamá. O funcionário, por questões de segurança, não permitiu nossa entrada nessa área restrita à circulação de carga e descarga — videoclipe 05.
O Utinga é bem policiado e o fluxo de pessoas nas caminhadas matutinas causa uma relativa sensação de segurança.
Há presença constante de militares da aeronáutica e do exército que fazem exercícios físicos e treinamentos rotineiros por lá — área vizinha aos quartéis e às residências desses soldados.
São caminhadas agradáveis onde se pode escutar em alto e bom som, além do canto dos pássaros, respeitosos “bons-dias” — uma raridade metropolitana!!!

Foto do Google Earth com visualização da área que abrange os lagos Bolonha e Água Preta. (Foto ampliável!!!)

Um passeio pelo que sobrou da estrada da Moça Bonita. Sentido estrada do CEASA/lago Bolonha - estrada do Utinga. Em alta qualidade no Youtube: http://br.youtube.com/watch?v=YJMdGergr6w

Visão do lago Bolonha e sua via de acesso (estrada do Utinga). Em alta qualidade no Youtube: http://br.youtube.com/watch?v=Q0AEsDw9vaM

Visão do lago Água Preta com acesso pela outra parte da estrada da Moça Bonita — é possível observar o que é nítido no Google Earth: a passagem da água entre os dois lagos. Caminho filmado: sentido estrada do Utinga/bairro da Guanabara (parte dessa via, no dia 20 de maio, fora aterrada com piçarra). Em alta qualidade no Youtube: http://br.youtube.com/watch?v=Q0AEsDw9vaM

A margem do lago Àgua Preta, pela via de melhor acesso, está totalmente tomada pela vegetação. Só se enxerga o lago pela rampa de lanchas e pelo sangradouro. Em alta qualidade no Youtube: http://br.youtube.com/watch?v=IzYoxh3E_rI

Estação de bombeamento: beira do rio Guamá. Em alta qualidade no Youtube: http://br.youtube.com/watch?v=JNgRJ2WhpRQ

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Belém do Pará: início da década de 1970.

Um amigo virtual, o Rogério Freitas Neves Júnior, fez essa presa: deixou-nos editar mais jóias da coroa belenense.
Estaríamos em 1969 ou 1970? Não houve consenso entre nós, porque as referências lógicas do Rogério são os modelos dos automóveis — ele percebeu que a Veraneio na Almirante Barroso seria de 1969 — mas o blog está aberto aos comentários para que as correções sejam efetuadas.
Belém em 69 ou 70 não difere tanto: apreciemos aí o velho “lotação”, aquele busão que tinha as janelas de madeira e a frente comprida; a Praça Kennedy, com seu espelho d’água e um calçamento circular para a prática de aeromodelismo com fio, dá até para escutar o barulho dos motores à mamona — hoje é aquele pandemônio; o letreiro e torre no topo do Manuel Pinto, que está por detrás do Theatro da Paz; a Almirante Barroso, vista da esquina com a avenida Ceará; a parte das “docas” que hoje é a Estação; o antigo prédio de O Liberal; A Maloca (hoje African Bar) e o reservatório d’água ao fundo; e tudo isso emoldurado por um céu de “verão”. Puta que nos pariu, é muita nostalgia para os exilados do passado.
Uma pergunta curiosa que o Rogério fez ao Blog: quando a Almirante Barroso deixou de ser chamada Tito Franco?
Nossa resposta, meio que por chute e dedução, já que não achamos nenhuma referência, foi: 1966 — quando Belém completou 350 anos ostentando, incrustados nas esquinas do calçamento central da “nova” avenida (lembramos disso no canto da Mauriti), uma simbologia comemorativa com quatro gamas. Essa marca alusiva ao aniversário da Cidade tornou-se estampa de camisetas e esteve presente em impressos da Prefeitura Municipal de Belém.
Deixemos que os leitores do Blog nos corrijam, este foi apenas um palpite indutivo, sem conclusão precisa.
Novamente agradecemos ao Rogério Neves Júnior, um leitor/colaborador do nosso Blog: valeu bro.!
P.S.: Há um álbum do Picasa à direita das postagens: nele as fotos estão dispostas como slides e são legendadas.

Vídeo postado no Youtube como http://br.youtube.com/watch?v=TWctCPzT58g

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Belém do Pará: filmagens das obras da 1º de Dezembro.

Abaixo há duas motofilmagens* das obras que prolongarão a avenida 1º de Dezembro (ou João Paulo II para os católicos) que, nalgum dia — não se sabe ao certo o mês e o ano —, chegará à Alça Viária.
O material filmado, praticamente sem cortes, corresponde ao trecho ora em execução: principia próximo ao clube Assembléia Paraense e finda na rua Mariano (asfaltada) que se interliga à passagem Nossa Senhora Aparecida (terra batida); corroborando assim para um maior engarrafamento no Entroncamento, já que essas transversais lá desembocam (600 e 450 metros antes do shopping center Castanheira, respectivamente) — postamos um terceiro vídeo que mostra a esquina da rua Mariano com a avenida Almirante Barroso defronte ao Memorial à Cabanagem .
A tomada dessas imagens se deu no dia 27 de maio de 2008, terça-feira, às 15 horas e 30 minutos — uma hora e meia após o almoço dos operários.
Vê-se, pelo registro, que o ritmo das operações mecanizadas é lento e há equipamentos parados; isso significa dizer que sair de Belém permanecerá um puta tormento por muitos e muitos anos.
Essa ação de engenharia não deveria ter conotação política, mas denotação estritamente técnica; já que é imprescindível para o escoamento do tráfego da Cidade, que conta com a única e infernal saída: o congestionamento.
*O neologismo motofilmagem foi empregado porque foi desse modo que as filmagens foram realizadas: uma câmera acoplada ao guidão de uma motocicleta.
Pedimos desculpas pelos solavancos presentes nas imagens — quando o blog estiver sob os auspícios de um almofadinha, a gente adquire algo menos sem-vergonha.

Caminho de ida: Assembléia/Entroncamento.

Caminho de volta: Entroncamento/Assembléia.

Tomada da esquina da rua Mariano com a avenida Almirante Barroso, defronte ao Memorial à Cabanagem.

Para assistir aos vídeos em alta qualidade, vá ao Youtube: http://br.youtube.com/watch?v=pIec3dxEwW8 e http://br.youtube.com/watch?v=mKwlDNL0fME

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Emagreça comendo listras.

Não existe coisa pior na vida do que um sujeito ter muito dinheiro e nenhuma noção: ser tão híbrido como uma mula.
O maior exemplo do que dissemos é aquele cara que tira boa parte do domingo para encher o saco dos brasileiros com piadas sem graça e rasgação-de-seda aos seus cupinchas: o Faustão — por contra-senso o aumentativo sintético de fausto, que pode significar luxuoso, pomposo e...ostentativo.
O cara é gordo e mal desenhado e ainda se aperta todo para ficar mais insuportável, mais deselegante; “uma trolha” como diria o nosso amigo Marcellino Moreno, que também é uma jamanta, contudo, um bon vivant de requintados critérios.
Esse apresentador pulha de TV consegue o impossível: adorna-se de listras verticais — é bem provável que ele tenha uma assessoria de moda ou, para ser demasiadamente fresco, um prensonal styler — para parecer mais magro.
Ah! Ah! Ah! Segundo o Walter Gropius ele se fodeu, ou se fode sempre, porque, dependendo da espessura das listras que o enfeitam, ele tufa mais, e mais, e mais.
Listras não engordam, nem emagrecem; a não ser que a gente as coma e, dependendo da quantidade, e qualidade, as duas poderiam ter efeitos diferentes no organismo animal.
Listras, nesse caso, são exemplos clássicos de ilusão ótica: elas se propagam pela “barriga” da linha (ou listra), impulsionadas pela irradiação da listra clara em relação à escura. Então, se alguém se veste com roupas de listras proporcionais ao conjunto, havendo o claro e o escuro, por mais que elas sejam do mesmo tamanho, as listras claras parecerão maiores porque "empurram" e comprimem as escuras ou "A luz lhes rói, por assim dizer, a silhueta" (GROPIUS,1977:63). Essa tensão faz com que as listras se expandam e provoquem o Efeito Mola.
É simples entender uma mola, não? Uma mola em pé sugere, por expectativa, o crescimento; deitada, lembra a sanfona do Luiz Gonzaga ou do Dominguinhos ou de qualquer outro nordestino.
Quando a gente diz isso na faculdade ninguém acredita. Mesmo ao ver as figurinhas do livro do Gropius, a galera pensa que é sacanagem. Tá bom, tá bom, tá bom: façam que nem o Fausto Silva: não tenham princípios, mas ganhem bastante dinheiro para me levar a passear de iate: afinal, roupa chique é a de comodoro: listradinha na horizontal, como manda o figurino.

Exemplo da ilusão de ótica no quadrado.

Exemplo da ilusão de ótica no maiô.

Exemplo da ilusão de ótica na Catedral de Siena.

Parte do texto de Walter Gropius, autor de "Bauhaus: Novarquitetuta".

Amplie o escrito para lê-lo. Nós podemos mentir; o Gropius, não mais: ele morreu!

A ciência da "gambiarra" (ou: A miséria é mãe da inventividade).

O leitor do Blog deve estar pensando: “Que porra é essa? Esses caras não têm linha editorial!”
Calma, vamos explicar:
A linha editorial deste Blog é: “Tudo é postável”.
Esses seis vídeos mostram o quanto ralamos para conseguir as imagens deles próprios e dos que estão por vir. Em primeiro lugar procuramos na internet suportes para câmeras de vídeo — para as nossas, claro; comprar um conjunto novo seria burrice, afinal, o Blog não tem patrocínio algum.
Não encontramos nada eficiente nem para motos, nem para autos — utilizamos duas câmeras: uma Mitsuca e uma Sony — mais que isso a gente montaria uma emissora de TV.
Vimos que os Tornadeiros (
http://www.tornadeiros.com.br) — uns doidos apaixonados pela motocicleta Honda XR 250cc, a Tornado — padecem com o mesmo problema para capturar imagens em trilhas.
Então fomos à luta: com a ajuda do gênio japonês do Ronaldo Moraes Rêgo, chegamos a uma solução razoável de custo zero — como diria o nosso saudoso amigo Gileno Muller Chaves: “Zé, tempo ocioso não custa nada!”.
Bolamos um suporte que bem se adaptou à Tornado, o testamos e ele está em uso, até que a gente consiga algo profissional, pequeno, eficiente e barato.
Esse projeto, limitado a câmeras pequenas que agüentem impactos, foi divulgado através desses vídeos no Youtube e muita gente já enviou e-mail demonstrando interesse, principalmente os que tem moto.
Há no mercado estabiladores como o Steadicam ou o Flying Jr, ou suportes-estabilizadores de pescoço e ombro; mas, imaginem essas parafernálias como armadilhas invisíveis: inviáveis. A idéia é também camuflar a câmera para flagrantes necessários: uma propina, uma situação inusitada, um fenômeno natural, uma puta ou um traveca de esquina, etc.
O barato de todo esse trabalho foi o próprio laboratório: pesquisamos, testamos e continuaremos com as investigações até chegar a um resultado melhor que o atual. O Ronald está trabalhando em um suporte para carro que seja manipulado pelo motorista e imperceptível à “vítima”.
Caso alguém tenha uma solução melhor, beleza: a gente é humilde e aceita a idéia de bom grado!
O derradeiro teste, antes do uso efetivo.
Visão do conjunto: suporte e câmera Mitsuca DV5073BR.
Teste de edição de captura motorizada de imagens.
Teste do suporte para câmera 01.
Teste de suporte para câmera 02.
Teste de suporte para câmera 03.
Para assistir aos vídeos em alta definição vá ao Toutube: http://br.youtube.com/watch?v=yHM097F3eG8. Os outros três foram postados como "respostas" a este, portanto, estão "linkados" no site, logo abaixo da tela maior de exibição.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O velho Cosa nas terças.

Terça-feira, Cosanostra, pouquíssimos conhecidos no "final de feira": melhor assim! Todo mundo sempre se entende e se atende: é a xepa!!!



Fotos noturnas de um celular: qualquer coincidência é mera semelhança!

União Beneficente dos Chauffeurs do Pará.

Uma edificação interessante e bastante recuperável que poderia se tranformar no Museu do Carro de Praça ou no Museu dos Chauffeurs do Pará. A PMB, através da CETBEL, deveria incentivar a recuperação do prédio localizado na avenida Magalhães Barata (antiga Independência) em frente ao Parque da Residência. Uma iniciativa dessas, necessariamente em parceria com a categoria dos taxistas e com o apoio das instituições de ensino; além de fazer um levantamento histórico dos Chauffeurs (choferes no original francês), seria mais um espaço cultural da Cidade. Ou ainda é muito cedo para pensar nisso? Quando a casa cair a gente reconstrói tudo, aproveitando só a fachada, porque sai mais barato com a desapropriação!
Se a Prefeitura Municipal de Belém quisesse uma Cidade recuperada, criaria estímulos aos proprietários, para que eles não abdicassem de suas relações com os imóveis de época ou cenários da história.
Aí galera das faculdades de história, sociologia, arquitetura e outras: isso é pano pra manga de vários TCC's ou TFG's e também de dissertações e teses.
Se os Chauffeurs conseguiram adquirir uma sede própria bem situada na Cidade é sinal de que alguma importância sociocultural havia naquela embrionária profissão. Ou seja: os caras não eram pouca merda, eram um penico e tanto!!!

Placa em marmorite alusiva à compra da sede em 1946.

Fachada com letreiro em ferro.

Fachada com letreiro em ferro.

Fotos: Bárbara Baleixe

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Direitos Humanos e Egressos do Sistema Penal tem sua capa definida.

A capa do livro Direitos Humanos e Egressos do Sistema Penal, dissertação de mestrado de José Augusto Nogueira Sarmento, foi definida. A brochura, em breve, será lançada pela editora Paka-Tatu. Quase tudo que projetamos foi acatado pelo autor e editora, com exceção do tipo usado no título do livro e no nome do autor: o AvantGarde Bk BT foi substituido por letra cursiva; o fundo, plenamente negro, foi enfeitado com a reprodução ampliada das ranhuras vistas na fotografia. Parabéns duplicado ao Augusto, que hoje pela manhã tomou posse como Representante do Ministério Público do Pará. Fomos convidados para o cock-tail, que será na Estação Gourmet, hoje, às 21 horas.

Clique sobre a imagem para ampliá-la.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Ontem, hoje e ontem: Belém.

Mesclagem das imagens feitas no último domingo com o material já disponibilizado publicamente no Blogger, Picasa e Youtube. A idéia desse bombardeio de fotos, abusado de fade in e fade out, é demonstrar que a Cidade tem caráter e não se dissipa da memória de seus munícipes. Belém sobrevive à semelhança de seus habitantes: aos trancos e solavancos de um bonde. Soluções há, e muitas; concatenar essa avalanche é que são elas. Se pelo menos um arcabouço básico - um ideário - fosse riscado, a Cidade não perderia seus ícones históricos para a intempérie sempre anunciada por seis, sete meses. O Patrimônio Público pode ser gerenciado pela iniciativa privada, desde que todos percam o necessário à justiça do contrato. Uma cooperativa de taxista, ou camelôs, poderia concorrer, de igual a igual, com sindicatos patronais, ou um pool de empresas de publicidade e propaganda ou de engenharia; o que importaria, nos editais, seria a vocação ao empreendimento - o melhor perfil de grupo com interesse e competência no ramo definido pelo poder público. Só existem dois mundos no universo: o real e o virtual; e um alimenta-se do outro. Homogeneizar essa mistura é o primeiro passo ao futuro. Todos gostaríamos de um inverno, que por aclamação é "verão", passeando de bondinho numa Cidade que mereça o bondinho que mereça a Cidade que mereça o cidadão que mereça a educação que mereça a bonança que mereça! Mérito é importância e todos necessitamos de amor próprio com as circunstâncias propícias, nem que seja à salga de um peixe para vender na feira do Ver-o-peso, ou na João Alfredo; mas com dignidade, sem ela nenhum valor se erige. Em outras palavras: alguém tem que ceder nesse escarcéu, e esse "alguém" tem o espectro definido: é o poder instituído como o bandido impune que nos assalta e executa de segundo em segundo, sem trégua: Ai IPTU! Ai IPTR! Ai IPVA! Ai CNH! Ai IRPF! Ai INSS! Ai CN/CR-de-porra-nenhuma! Ai guia disso! Ai tarifa daquilo! Ai água, luz, telefone fixo, celular, internet e o escambal "supranecessário"! Ai plano de saúde! Ai seguro! Ai colégio das crianças! Ai compulsório de franelinha! Ai esmola de semáforo! Ai indústria da multa! Ai corrupção! Chi!...ai, ai, ai..."zóia" o nosso rabo aí "rapá", que "nós merece" é ser feliz!!!

No Youtube: http://br.youtube.com/watch?v=GDzjp8joeDA

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O bondinho do Edmilson na Cidade do Duciomar.

No domingão de 18 de maio de 2008 resolvemos dar uma volta pela Cidade para fotografá-la. Com medo de assalto levamos a bereré Mitsuca DV5073BR. Começamos às 11 horas e terminamos às 14 horas, período de péssima luz, mas era o pavor de assalto. A Cidade (sempre em maiúscula porque é a nossa amada Belém do Pará) estava movimentada até o meio-dia. À uma da tarde cruzávamos à João Alfredo quando avistamos, tal qual está registrado, o "bondinho do Edmilson"; uma cena surreal, aflitiva, insólita, emocionante, angustiante, sabe-se lá o que - foi o tempo de ligar a máquina e sair do automóvel. Nessa esquina havia dois senhores aparentemente idosos, um em cada lado da Padre Eutíquio; talvez vigilantes das barracas, ou barraqueiros, não sabemos ao certo, mas confiamos neles. O peixe seco pendurado na barraca da direita pode dar a significação necessária para matar essa charada. Fizemos outras imagens para postar gradativamente no blog, inclusive as da Chácara Bem-Bom e do Palacete Facióla já publicadas. Não reconhecemos o Comércio, parecíamos turistas gringos perdidos. Não há como bem identificar as fachadas que víamos quando por lá ainda se andava com espacialidade suficiente para entender o próprio entorno. Apesar do sobressalto, essas três horas foram agradáveis e produtivas; até porque não é nossa intenção capturar imagens esplendorosas - tarefa dos "profissas" da fotografia e Belém tem um monte de bambambã nessa área -, queremos apenas a demarcação do espaço no tempo. Deu pra ver que o "bondinho do Edmilson" é bonitinho e o condutor uma pessoa de fino trato - conversamos com ele no terminal para saber dos horários. Conclusão da História: o bondinho do Edmilson está bem melhor que a Cidade do Duciomar! (E olhem que aqui não tem nenhum partidário nem de um, nem de outro alcaide!)

Dica do blog: peguem suas máquinas e saiam pela Cidade, nos domingos e/ou feriados, a fotografá-la. Mas sempre tenham muito medo de assalto, porque não há policiamento algum por aquelas bandas!

O bondinho do Edmilson na Cidade do Duciomar - copião com buzina de bonde.

Assista em alta resolução no Youtube: http://br.youtube.com/watch?v=iJ5JRTvveFo

O bondinho do Edmilson na Cidade do Duciomar - editado como videoclipe.

Assista em alta resolução no Youtube: http://br.youtube.com/watch?v=RlRkdS7H5hY

Imagens: Bárbara Baleixe.

A burrice da Prefeitura Municipal de Belém.

A Prefeitura Municipal de Belém é um asno, de tão ignorante que se mostra. Nem poderíamos responsabilizar os prefeitos Edmilson Rodrigues e Duciomar Costa que, eleitos pelo povo, têm o direito até ao analfabetismo; mas uma equipe técnica, que lida com o patrimônio cultural da Cidade, essa não tem justificativa para tanta bronquice.
A enorme placa "Reforma do Palacete Facióla" posta na Chácara Bem-Bom é um contra-senso absoluto.
Não houve, não há e não haverá reforma alguma naquele lugar porque somente a fachada e os dois chafarizes restaram do prédio original. Aquilo é uma obra totalmente "nova" que se arrasta desde o Edmilson, que lá implementaria uma casa de saúde mental - um hospício -, até hoje, com o Duciomar, que não anunciou na placa que destino dará ao prédio.
É somente um puta erro de informação sobre a história da Cidade, porque o nome do lugar é CHÁCARA BEM-BOM (repetindo: BEM-BOM de bem estar, de estar na folga, à vontade, de bubuia, coçando-o-saco...e não da família Bem-bom; que nada tem a ver com o peixe). O PALACETE FACIÓLA, que fica na avenida Nazaré nº166 esquina com a travessa Doutor Moraes, é um outro exemplo do temporário fausto da borracha.
As duas propriedades eram do mesmo cidadão, por coincidência um "ex-prefeito" de Belém, o intendente municipal Antônio Facióla; contudo, o Bem-Bom fora um retiro da família e posteriormente a residência de um de seus filhos de nome Edgar (o Bebé).
Nem por hábito, nem de brincadeira, a Chácara Bem-Bom foi chamada de Palacete Facióla um dia. Há quarenta e seis anos vizinhos do que fora uma imponente residência rural erguida na estrada de ferro Belém-Bragança, jamais ouvimos algo diferente de tratá-la de "Casa do Facióla" ou simplesmente "Facióla": "Vamos lá no 'Facióla', pegar (furtar) umas frutas?!?!" (porque era uma chácara e tinha pomar).
Diziam que o tal Facióla (Edgar) que lá morava era muito miserável e havia comprado todos os caixões dos familiares vivos, guardando-os (os caixões) no andar superior. Outros afirmavam que havia um defunto dentro de um caixão. Este seria o folclore da casa, sempre voltado ao pavimento de cima. Conversando com a senhora Léa Facióla Pessôa, neta do Antônio Facióla, disse-nos ela que quando ia ao Bem-Bom nos finais de semana, seu avô proibia a subida das pessoas ao segundo andar justificando ser perigoso, o que ela não discernia por ser uma criança. Talvez essa proibição, por zelo aos netos, ou desconfiança na construção do segundo pavimento que ele mandara erguer — e que viria a cair em 1999 —, tenha provocado a macabra lenda.
A pergunta é: quem vai apresentar a palmatória aos técnicos da PMB; ou botá-los de castigo no milho; ou no canto, cheirando a parede?
É fato que a equipe técnica da PMB seja mesmo incompetente, já que repete o mesmo desatino em dois governos consecutivos de ideologias distintas! (Vide "Chácara Bem-Bom é só fachada.", aqui no blog.)
Chácara BEM-BOM: avenida Almirante Barroso entre Mauriti e Barão do Triunfo.
Bem desapropriado pela Prefeitura Municipal de Belém - não pago.
Palacete FACIÓLA (grafia antiga): avenida Nazaré de canto com a Doutor Moraes.
Bem desapropriado pelo Governo do Estado do Pará - não pago.
Fotos: Bárbara Baleixe

sábado, 17 de maio de 2008

Um conto exclusivo de Erasmo Vanderlei de Souza e Castro.

Nosso dileto amigo e psiquiatra Erasmo Vanderlei de Souza e Castro nos enviou um conto exclusivo sobre Belém do Pará.
Desde 1999 o Erasmo mora na Islândia e vez por outra vem matar as saudades das nossas caboclinhas aqui na Belém do xirizal.
Esse escrito, abaixo publicado como restrito do blog, tem uns três anos e foi iniciado na Cidade, na penúltima vinda do Erasmo. A inspiração se deu porque enchemos a cara no Locomotiva's, arrodeados das mais "belas" putas valdirianas, inclusive as dançarinas. Os papos foram surreais, mas...para alguma coisa serviram. Sucesso aí na Iceland bro., você merece!!!

Foto de 1997 retirada da página: www.icelandpsychiatric.gov quando o bro. tinha pinta de galã e havia telhas.

As palavras-chave alguém e ninguém

Camilla é um nome comum. Não tão simples como Maria, mas numeroso o suficiente para requerer uma completação, um sobrenome: SMITCHEN.
Camilla Smitchen fora assassinada em um quarto de hotel após um programa regado de sevícias. O fato foi banalizado pelos jornais porque C.S. não era menor, nem mesmo seria esse o seu verdadeiro nome. Na identidade constava Rosemary Silva, com duas passagens pela polícia do estado de Tocantins — nos dois casos ela colaborara com traficantes.
Ninguém se dá ao trabalho de pesquisar sobre o que não interessa. Policiais perseguem notoriedade, não pessoas. Ninguém investiga ninguém. Sabe-se de tudo isso porque Camilla Smitchen não estava em um motel e sim em um hotel. Apresentar o documento de identidade à recepção é norma em hotéis de gabarito.
Ficou registrado na memória da recepcionista a estranha e banal semelhança entre os seus nomes. Eram homônimos na ficção e na realidade. Camilla Silva, 27 anos, recepcionista do Hotel Paradigma, só fez essa analogia após ler os jornais e descobrir que Camilla Smitchen era a estrela dançarina de uma boate da cidade — Belém do Pará.
A relação entre nomes apimenta romances policiais. Camilla Silva sentiu-se invadida pela necessidade de entender o que ocorrera naquele luxuoso quarto — o 901 tinha requintes de suíte presidencial e vista panorâmica à baía do Guajará. A dançarina chegou desacompanhada. Suas roupas de grife não davam o menor sinal de sua profissão. À exceção de suas postiças unhas negras e brincos que se assemelhavam a móbiles. Uma extravagância que não estragava o indumento. A aparência singela, associada a uma beleza meio escandinava, denotava que ali estava uma alta funcionária de uma empresa do sul do país.
São os ingredientes triviais que aromatizam e dão paladar à culinária. Por mais que todos os tacacás sigam um padrão de preparo, há a essência própria da banca — há o clima, a circunstância, a instabilidade necessária. Isso talvez explicasse a predileção de pessoas em freqüentar um mesmo lugar para degustar a iguaria. As duas Camillas iam à mesma tacacazeira havia três anos. Nunca se encontraram antes do incidente no hotel. Quando dona Dora disse que a jovem que morrera na antevéspera era cliente, Camilla Silva intimidou-se e tremeu. Como poderia isso ser possível? Que geometria seria essa? Haveria alguma eqüidistância que justificasse essa justaposição complexa? Camilla Silva estava muito longe de sua casa e também do trabalho. Seria Camilla Smitchen vizinha daquele lugar?
—Senhora, por gentileza, aquela moça dos jornais morava perto daqui?
—Creio que não, respondeu dona Dora acrescentando: ela vinha de carro religiosamente às dezessete horas. Jamais faltava às quartas e quintas, exatamente como a senhora. Pela beleza e finura, há anos eu noto a presença de vocês duas. Você nunca a viu por aqui?
—Não, infelizmente não!
Dona Dora, atarantada com a freguesia, não deu continuidade ao diálogo que incendiaria o raciocínio de Camilla Silva. Voltar ao hotel nessa folga de vinte e quatro horas parecia ser o único remédio à insônia anunciada.
Antonio Carlos ocupava o lugar de Camilla na recepção.
—Não estás de folga menina? Que fazes aqui?
—Ainda estou intrigada com o que aconteceu ontem!
—Esquece isso e vai para casa...sei lá...se eu fosse tu, iria tomar um drinque para esquecer essa barbaridade!
—Eu me conheço, de nada adiantaria. Preciso ver o quarto, eu careço de entender o que aconteceu, senão enlouqueço!
—O quarto continua como estava, inclusive está com mau cheiro, a polícia só vai liberá-lo para limpeza amanhã pela manhã.
—Eles tiveram o dia todo e ainda não concluíram a perícia?
—A perícia sim, mas deve ser um procedimento de rotina. O seu Guilherme já conversou com um delegado amigo dele. O quarto vai ficar fechado por uma semana, até que a gente renumere o andar. A plaquinha “901” vai ficar na porta do quarto de serviço o tempo suficiente para que esse estigma caia no rol dos esquecimentos.
—Posso ir até lá?
—O que fazer lá? Queres te impressionar ainda mais?
—Eu acho que é uma obstinação. Vai ver é porque fui eu quem atendeu a moça!
—Dona Raimunda tem as chaves. Pega com ela!
—Tudo bem. Obrigada Antonio!
Camilla procura por dona Raimunda, uma das camareiras do hotel, que a acompanha à visita ao quarto. Dona Raimunda ausenta-se para cuidar dos seus serviços. O hotel estava lotado. A rotatividade das figuras executivas demonstrava o trânsito do lugar.
No quarto, Camilla Silva senta-se à cadeira da penteadeira. Percebendo que há vestígios significativos a uma perícia, ela evita tocar nos objetos. As roupas e a bolsa de Camilla Smitchen haviam sido recolhidas pela polícia. O quarto estava desarrumado, do mesmo modo que o encontraram após o terceiro telefonema dado pelo ocupante do 801, que reclamara dos barulhos vindo do andar superior. O senhor Erlindo Nóbrega, em depoimento dado à polícia, disse que escutara sussurros femininos desde as oito horas da noite de quarta. A gerência autorizou a entrada somente às vinte e três, após insistentes ligações e batidas na porta do 901. Não se poderia acusar de negligência, pois esse horário, entre 20 e 23h, é sempre muito conturbado e barulhento. O pessoal do hotel, na verdade, não deu muito crédito ao velho Erlindo, afinal de contas, todos já conhecem sua rabugice.
Camilla Silva, completamente imóvel, passou quatro horas observando tudo ao seu redor. Tentava ela imaginar o que ocorrera naquele cenário. Sua expressão era fiel àqueles rostos que constróem imagens de fatalidades não registradas. Daqueles que criam para si um conjunto indelével de conjecturas e, sem elas, não vivem. Sobre a mesinha com espelho, uma escova com cabelos entrelaçados. Ao direcionar seus olhos ao esquecido objeto, lembrou-se dos cabelos de Rosemary — ou Camilla Smitchen — e reconstruiu sua imagem à entrada do hotel. Foram longos minutos na recomposição dos detalhes daquela atmosfera de final de tarde — houvera um por de sol típico de setembro e o entardecer fora fresco. Em relance ao espelho, percebeu um pequeno brilho sob a cama, no carpete vermelho. Na conferência da imagem real viu que se tratava de um chaveiro, uma espécie de mosquetão, muito usado por concessionárias de automóveis. Pronto, para Camilla Silva, estabeleceu-se a conexão suficiente ao presságio. “—O que fazer?” “—Ir à polícia?” “—Alguém daria importância àquelas chaves?” Ninguém, ninguém...só ela:...alguém.
Camilla Silva lançou mão do chaveiro e da escova e as colocou em sua bolsa. Dona Raimunda nem a viu sair. Antonio Carlos, com o tumulto do hotel, muito menos. Os taxistas de plantão notaram a saída da moça. Notaram sim, mas nada anotariam em suas lembranças. Era hábito que funcionários cobrissem colegas em turnos variados. Essa era uma solução dada ao trabalho coletivo, sem prejudicar o funcionamento do Paradigma. Camilla rumou a um estacionamento vizinho para pegar seu carro: um popular, financiado em sessenta meses. Seu automóvel ocupava a vaga de número 27 daquela garagem ordinária. O número 26 abrigava um carro sem placas, correspondente à marca impressa na chave que ela havia encontrado no 901. As películas escuras impediram Camilla de imiscuir-se naquela dependência alheia. As mãos de Camilla, trêmulas, tomaram o rumo da fechadura e as travas se soltaram. “—O que fazer?” Perguntou-se Camilla, pasmada.
Camilla Silva é dona de um currículo invejável. Formada em administração de empresas e pós-graduada em hotelaria, trabalha no Paradigma há quase seis anos. Por mais que a empresa reconheça-lhe muito valor, ao ponto de financiar-lhe aperfeiçoamentos profissionais, seu salário não dá para custear os agregados que se abrigam em sua casa. Nasceu no Marajó e é o mais importante membro de uma família unida pelos laços de rio. Sua mãe morreu quando ela era garota. Seu pai, dada a ignorância dos habitantes do lugar, e, muito mais a dele próprio, fez mais de trinta filhos, inclusive com suas próprias filhas. Moça bonita, determinada, sempre esteve presa aos valores instituídos por uma velha fazendeira que ajudou em sua criação e formação.
O que fazer Camilla Silva? O que fazer? Para quem já resolveu questões inomináveis da miséria, o que há de tão complexo em um carro já aberto, sem placas, em que a possível dona esteja morta? Não te apoquentes Camilla Silva! Não te apoquentes! Se bem pensou nesses instantes, foi pouco para que Camilla deixasse de dar partida e rumasse à sua casa, na Cidade Nova — Ananindeua, grande Belém.
O que parecia ser medo transmutou-se em glória. Um orgasmo foi propiciado pela situação inusitada e involuntária. Preliminares houve Camilla, preliminares houve! Mais de quatro horas para que esse ato se consumasse, de fato. Agora você dirige o que pertence à sua premonição. Vá e leve consigo aquilo que pode ser o verdadeiro remédio à sua insônia: a própria vigília.
Camila Silva chega em sua casa à uma hora da manhã. Na garagem há um portão eletrônico que é acionado pelo controle guardado em sua bolsa. O carro é posto em ambiente coberto e fechado — um lugar seguro. Os vizinhos não perceberiam, pela manhã, um veículo diferente do habitual. De qualquer forma, a área é bastante movimentada durante o dia. Tempo e tranqüilidade estariam garantidos às investigações.
Camilla Silva deita-se, mas não consegue dormir. Trabalhar nas possíveis pistas pela manhã era o objetivo, contudo, seu sobressalto a fez iniciar os exames naquela madrugada mesmo. Sentou-se ao banco do carona e tentou identificar odores. Procurou abstrair a base de todos os cheiros: o do silicone. Afinal, por “sorte”, o carro é novo. Poucas fragrâncias freqüentaram aquela cabine. Alguém como ela teria a capacidade de bem pesquisar sobre alguém como Camilla Smitchen. Alguém pode e deve descobrir algo sobre alguém, porque ninguém investiga ninguém. O espelho descartou de vez a polícia, não o da penteadeira, mas o do estojo de maquiagem de Camilla Smitchen, acomodado, junto com os documentos do carro, no porta-luvas.
Uma hora sentada sobre o banco de couro foram insuficientes para aquietar a excitação. Aquele carro era uma despensa de indícios. Camilla Silva precisava alimentar-se, sua última refeição fora às dezoito e trinta do dia anterior — o fatídico tacacá que estimulou toda aquela situação.
Às proximidades da residência de Camilla Silva há muitos motéis. O carro de Camilla Smitchen, pelas características, é dissimulado. A nota fiscal, o registro do veículo e o manual do proprietário estão sob o poder de Camilla Silva. As placas sobre o banco de trás. A licença para o tráfego temporário colada ao pára-brisas e seu sobrenome também é Silva. Carro emprestado de prima para prima não desperta desconfiança em policiais, muito menos quando é uma motorista solitária. O que a impediria então de ir a um motel para, na ausência de todos, vascular toda a vida da morta? Camilla Silva seguiu para o Pégasos e pediu, pelo interfone, camarões empanados — esse, com a certeza cabal, seria o prato predileto de Camilla Smitchen —, porque todas as putas são alucinadas por camarões.
O Pégasos é o motel mais caro da área. É famoso pelo seu hermetismo: um cartão magnético, entregue na guarita de entrada, permite acesso aos espaços de uso exclusivo do cliente. Um sensor de presença, ativado pelo calor do automóvel, lacra a possibilidade de entrada e saída, só revertendo a operação com o código base e o cadastramento de uma senha de oito dígitos alfanuméricos. Cinco minutos após adentrar os aposentos, uma gravação, propagada pelo sistema de som, dá-lhe as boas vindas e solicita que haja comunicação com uma das atendentes para informar a intenção de estadia e consumo. Era um sonho de Camilla Silva trabalhar naquele empreendimento, contudo, os recursos humanos foram contratados no estado do Paraná. Camilla Silva disse que pernoitaria e solicitou que o café da manhã, para dois, fosse servido às dez horas. Por que para dois? O café da manhã do Pégasos é um sonho: farto e delicioso. Camilla Silva degustaria os dois, ou levaria o que sobrasse para casa. O pedido também sugestionaria um acompanhante, já que as películas impossibilitavam a percepção do interior do automóvel. Se o dejejum estava embutido no pernoite, por que não aproveitar essa benesse?
Camilla Silva deliciou-se com o prato de camarões. Por duas horas esqueceu-se do que fora fazer no Pégasos. Todo aquele glamour dava-lhe a sensação de uma auto lua de mel.
Havia muito trabalho a fazer. Esquadrinhar todo aquele automóvel seria uma tarefa árdua. Camilla Silva já havia encontrado o estojo de maquiagens, os documentos do carro e as placas. O que mais Camilla Smitchen mostraria a Camilla Silva?
A iluminação da garagem tem o controle de incidência por intermédio de um botão giratório. Camilla Silva deixou-o no máximo. Havia luminosidade suficiente para revirar tudo. O porta-malas foi priorizado. Apesar da dificuldade para abri-lo, Camilla Silva encontrou uma pequena valise de couro. Abaixo do carpete, no compartimento de ferramentas, havia dois pacotes de tamanhos e embrulhos diferentes. Todo o achado era posto ao lado do automóvel. Sobre o banco traseiro, somente as placas. Camilla Silva retirou todos os tapetes. No assoalho de trás deparou-se com um celular fino e negro, quase imperceptível àqueles que não aguçassem o olhar. Embaixo do banco do carona, uma caixa de fósforos da Nigth Letter Club, onde Camilla Smitchen era a celebridade nua da discoteca. Todo esse aparato subiu ao quarto com Camilla Silva. Camilla Silva fizera sexo com alguns homens, mas nunca fora a um motel com tanta incitação e desejo.
Todo o material investigativo foi espalhado na enorme cama do quarto 901 do Pégasos. Novecentos e um, tal qual o do Paradigma. Qualquer boa trama deve incidir em um ponto comum, em um nome comum, em um número comum. Quando o autor tece a teia, finge ele ser uma aranha, quase pronto para pegar o incauto, o inseto, o ninguém. Alguém pega ninguém! Ninguém pega alguém! Este é o espírito da prosa.
Resta-nos acompanhar Camilla Silva à cama. Não há testemunhas, não há suspeitos. Camilla Silva — a viva — e Camilla Smitchen — o espectro — protagonizam o crime. Somente a partir dessa invulgar relação é que encontraremos os elementos necessários ao entendimento da ocorrência.
Camilla Silva retira um canivete suíço de sua bolsa e inicia o desembrulhar dos dois pacotes. O menor, envolto por vários giros de fita crepe, causa-lhe dificuldade. Camilla Silva corta o dedo indicador da mão esquerda. Apesar do sangue, a operação continua de forma desajeitada. A surpresa: um saco de pano, daqueles de guardar pares de sapato, com muitos blocos dobrados de surradas notas de 100 dólares. A dobradura do dinheiro era esquisita, isso dava a conformação insuspeita ao pacote. O encadeamento das cédulas, uma possível prensagem hidráulica, a amarração por tiras de câmara de pneu e fraudas de pano evitavam o discernimento visual e tátil desse achado. Camilla Silva atemorizou-se com o inesperado, mas arriscou na estimativa: 200 mil dólares, em brasa.
O invólucro maior era de papel madeira, diversas passagens de fita durex o encobriam. Por dentro jornal, muitas páginas de jornal. Quando Camilla Silva o perfurou, sentiu de imediato o cheiro característico do camarão seco. Camarão seco e folhas murchas de jambu. Que absurdo, a maluca (morta) era mesmo alucinada por tacacá! Mas de onde seria o periódico? No afã de descobrir esse curioso detalhe, Camilla Silva separa as folhas e derrama os camarões por sobre a colcha. O jornal era de Palmas. Mas camarões e jambu escondiam outro conteúdo: cocaína. Três quilos da mais pura, ou: três quilos de ouro na cotação do mercado. Camilla Silva foi à loucura. Deitou-se de costas e respirou fundo. Nada sabia pensar. Nessa posição ficou por longa meia hora.
Camilla Silva levantou-se e foi ao banheiro. Um demorado banho a fez relaxar. Vestida com um roupão do Pégasos, foi à copa comer as sobras de seu pedido. Já amanhecera, eram seis e dez da manhã. Camilla Silva interfona e avisa à recepcionista que um dos cafés deve ser servido naquele momento, o outro, às dez. —Mais alguma coisa, Senhora? —Ah, sim! vou ficar hospedada. Algum problema? —Não, não. Fique a vontade!
Camilla Silva despeja o que continha na valise, organiza a droga e os dólares e nela os guarda. A maletinha é posta sobre a penteadeira.
A cama está repleta de camarões, jambu e os pertences pessoas de Camilla Smitchen: minúsculas roupas íntimas, uma peruca preta longa, uma agenda de couro e um nécessaire. No nécessaire Camilla Silva encontrou escova de dentes, pasta, seis batons carmins, três rímeis, uma escova de cabelo, uma caixa de absorventes internos, dois maços de Carlton Red, um isqueiro Zippo dourado, uma navalha e as giletes que a carregam.
Os camarões, o jambu e os jornais são postos no cesto de lixo do banheiro. Enquanto Camilla Silva aguarda o dejejum, deita-se rapidamente para folhear a agenda de Camilla Smitchen. A letra é um garrancho: sofrível. As anotações parecem um inventário dos programas que ela fizera ao longo do ano, mas não davam pistas sobre os seus, ou suas, clientes. Traduzindo, para um português razoável, trechos dos escritos de Camilla Smitchen: “J.E., o canhoto, me deu 2000 Reais. Um nojento fedido. Que merda!”; “Tô com saudade do meu macho. Quando será que E.N. volta da merda da viagem?”; “Aquela vagabunda me mordeu toda. Fiquei marcada. Vou ter que colocar base para dançar. Puta que a pariu! Não gosto de mulher, mas a fodida paga bem: pegei três mil pelas chupadas. Só valeu pela grana da cadela velha mal amada”. Não se lia um nome. Telefones eram postos ao lado de desenhos toscos, garatujados. O significado dessas notas só poderia ser decifrado por sua própria autora, a morta.
A cigarra anuncia que o café da manhã está servido. Camilla Silva segue para a copa levando consigo a agenda de Camilla Smitchen. A mesa, além de bem organizada, está repleta do bom e do melhor. Camilla Silva se delicia com tudo. Glamour e fome se pelejam. A estafa incomoda, mas não há sono. Procurar por ele seria render-se a um desmaio. Saciada, Camilla Silva sente uma incontrolável vontade de fumar — ela parara de fumar havia quase dois anos. Maços de cigarro e isqueiro estavam no necessaire de Camilla Smitchen. Camilla Silva os apanha e volta à mesa. O Zippo não acende pela falta de fluído. Duas caixas-de-fósforos do Pégasos faziam-se visíveis sobre uma bancada. Ao ver aquilo, Camilla Silva lembrou-se do Night Letter Club. Voltou à cama para procurar os fósforos que ela encontrara sobre o assoalho do automóvel, abaixo do banco do carona. Ao abrir o envelope de fósforos — típico de restaurantes, hotéis e motéis e, também, de filmes policiais — ela observa a falta de sete palitos e a existência de uma inscrição: “Sou uma Mulher Insaciável que Tem Confiança no Homem Erlindo Nóbrega”.
“—Erlindo Nóbrega fora o hóspede que denunciou o barulho no quarto acima do dele — o 801 do Paradigma. Era ele o coronel dela, ou o seu caraxué. SMITCHEN sempre foi uma sigla. Como alguém carregaria um nome artístico cifrando uma declaração a um homem? Só por muito carinho, devoção, dependência...sei lá?...loucura, loucura!!! Ele a matou!!! Ele a matou!!! E agora, meu Deus, o que faço?!”
Se ficara evidente para Camilla Silva que Erlindo Nóbrega matara Camilla Smitchen, não há dúvida, para todos nós, que Camilla Silva está em uma sinuca de bico. Ela possuí duzentos mil dólares, três quilos de cocaína, um carro furtado e o conhecimento da identidade do assassino de uma dançarina de cabaré.
Camilla Silva entra em ebulição e perde momentaneamente seu norte. Vomita no vaso sanitário todo o dejejum. Alterna o quente e o frio da ducha por uma hora. Cai no sofá e dorme por quatro hora. Ao espantar-se percebe que é meio-dia. Lembra-se que deve dar uma satisfação ao pessoal do hotel. Ela tem de estar no trabalho, às 17 horas. Pede à recepcionista que faça uma ligação para o hotel Paradigma. Procura falar com Antonio Carlos, mas ele fora rendido pelo senhor Guilherme, uma espécie de gerente geral com atributos de comandante.
—Boa tarde seu Gilherme, aqui é a Camilla, tudo bem com o senhor?
—Não, dona Camilla, não está nada bem. Procuramos falar com a senhora pelo telefone de sua residência, pelo seu celular, e nada!
—Desculpe-me seu Guilherme, eu tive alguns contratempos, mas vou trabalhar às 17 horas.
—A polícia esteve aqui no hotel e queria algumas informações suas sobre a moça assassinada. Afinal, só você e o ascensorista entraram em contato com ela aqui no hotel.
—Pelo amor de Deus seu Guilherme, eu pensei que eles tivessem encerrado as perguntas quando falaram comigo na madrugada de ontem.
—Tudo bem, tudo bem, eu vou falar com um amigo para evitar que perturbem vocês, mas...o rapaz do estacionamento...
—Não entendi, seu Guilherme!
—Ele achou muito estranho você ter deixado o seu carro todo esse tempo lá.
—Ah! Tudo bem...ele não pegou...e não havia ninguém para empurrá-lo, por isso o deixei lá.
—O rapaz deu por falta de um carro novo que estava estacionado ao lado do seu. É possível que pertencesse a moça assassinada, não há certeza, mas...
—O.K., seu Guilherme, às 17 estarei aí, até logo.
A situação complicou-se, pensou Camilla Silva. Todavia ela solicitou à atendente que providenciasse um taxi. Disse que iria resolver alguns problemas na cidade, mas que seu marido ficaria no Pégasos, dormindo. Camilla Silva vestiu-se velozmente e colocou a peruca de Camilla Smitchen. Usou corretamente o cartão magnético para sair do quarto e apanhar o taxi, que já a aguardava defronte do 901. Disse ao motorista para deixá-la em um supermercado não muito longe dali. O supermercado, como era de costume, estava abarrotado de gente. Ela foi ao banheiro, colocou a peruca na bolsa e apanhou outro taxi em direção ao Paradigma. No Paradigma encontra seu Guilherme, que a percebe muito excitada, pálida e sem maquiagem. Ela lhe diz que se sente muito mal. Que está com uma hemorragia menstrual e que não tem condições para cumprir seu turno. Seu Guilherme entende a situação e faz algumas ligações para arranjar outra pessoa que a substitua. Camilla Silva busca seu carro no estacionamento. Ao chegar em sua casa diz à tia, uma espécie de governanta, que precisa ir ao médico antes do trabalho. Comenta que o carro tem problemas e que sairá de taxi para resolver tudo. Fala à tia para não se preocupar e evidencia que seu celular está sem comunicação — de fato estava, Camilla Silva esquecera de carregá-lo.
Camilla Silva sai de casa a pé. Entra no movimentado supermercado e saca 800 reais em um caixa eletrônico, o suficiente para quitar a conta do motel. Seria muito suspeito que ela pagasse com dólares. Seu plano era sair com o carro e abandoná-lo no estacionamento do agitadíssimo supermercado.
Camilla Silva volta, de peruca, ao Pégasos. Tudo deveria ser ligeiro. Ela precisava aproveitar o tráfego intenso daquele horário. Preocupada com todo e qualquer indicio, inicia uma verdadeira faxina no quarto com alguns produtos comprados no Alvorada Hiper Center. O celular que ela achara no automóvel toca. Camilla Silva, em pânico, percebe, pelo visor, que se tratava de E. N. — já sabido como Erlindo Nóbrega. A ligação chega ao fim sem que ela atenda. Nova chamada se inicia. Camilla Silva resolve atender dizendo: ”—o que queres, assassino?” A resposta é seca: “—o que me pertence, sua vaca!”
Camilla Silva é encontrada sobre a cama do nº901 do Pégasos. As marcas de sevícias são idênticas às da dançarina do Night Letter Club. Ela vestia as peças íntimas de Camilla Smitchen, seu rosto e peito estavam lambuzados de cocaína e algumas notas de 100 dólares entupiam seus orifícios. Nada além disso havia ali.
Camilla Silva jamais imaginara que o proprietário do empreendimento que ela sonhara em trabalhar, o Pégasos, seria o senhor Erlindo Nóbrega — um rico paranaense com negócios em Belém e Palmas.
Alguém sempre encontra ninguém.

Erasmo Vanderlei de Souza e Castro é psiquiatra, executivo e escritor.


sexta-feira, 16 de maio de 2008

Motricidade Oral ludibria internautas.

O vídeo Motricidade Oral foi produzido como material didático para um dos cursos ministrados na XI Jornada de Odontologia do Cesupa realizada esta semana no hotel Sagres. "O porquê da interdisciplinaridade fonoaudiologia/odontopediatria?" foi respondido pela fonoaudióloga Elaine Lopes (a atriz do videoclipe) e pelas odontólogas Elizabeth e Larissa Yamasaki (autora das filmagens) também no formato audio-visual. Nós demos uma força na edição que foi apresentada como "projeto do Ulead", já que houve problemas técnicos que impediram a concretização do vídeo em WMV e MPEG. O pouco que conseguimos gravar foi parar no Youtube e, em algumas horas, já estava com duzentas visualizações, o que é bastante curioso para um tema técnico. Chegamos a conclusão de que, ao visualizar a imagem minimizada do vídeoclipe no Youtube os internautas apedeutas punheteiros acreditam se tratar de um boquete e clicam desesperados para vê-lo. O pai d'égua é saber que eles se frustram feio. Se bem que a boca da Elaine é um espetáculo, o que pode não baldar o "mãos à obra" da galera!



terça-feira, 13 de maio de 2008

Curta paraense: Matintaperera.

Apresentação de Matintaperera no Youtube:

"MatintaPerera: Em noite de lua cheia o pio da rasga mortalha assusta quem ainda está acordado na floresta. O caboclo lembra da MATINTAPERERA. E para livrar-se da bruxa, promete tabaco para ela pegar de manhã em frente à casa. Se o caboclo deixou o fumo, a bruxa passa a defender a família. Mas se ele não cumpriu a promessa......Um filme de Jorge Vidal." (http://br.youtube.com/watch?v=ooH4digMpaw e http://br.youtube.com/watch?v=y-1nn-L3jBs&feature=related)

Um trabalho cuidadoso como esse, de inteligente adaptação à contemporaneidade e já premiado, não pode, e nem deve, passar batido pelos internautas. Basta uma garotinha balançar os peitinhos defronte de uma wedcam, ou dançar o "créu" no quintal, que arrebata milhões de espectadores e é laureada pela audiência e comentários. Puta-que-pariu: é muita falta de senso que essas duas partes do curta tenham sido vistas por menos que 4 mil pessoas até hoje no Youtube. Mais assustador é a quantidade de merda produzida que encanta a grande maioria de apedeutas punheteiros! Democracia é isso: o que não presta fica com a maioria, por consentimento e felicidade!

Parte 1:

(1950 exibições até às 02h44min de 13/maio/2008)

Parte 2:

(1355 exbições até às 02h:44min do dia 13/maio/2008)

domingo, 11 de maio de 2008

Belém do Pará: Círio de 1947 e 1949.



Videoclipe feito a partir de fotos tiradas em 1947 e 1949. O autor das imagens é, por nós, desconhecido.



Material do Youtube correlato às nossas postagens.

Estes vídeos foram selecionados no Youtube para que possamos fazer uma correlação do modus vivendi e do espaço urbano entre Belém do Pará e outros centros desenvolvidos do Brasil e do resto do mundo ocidental nas épocas abordadas.

Rio de Janeiro: década de 1940.

Rio de Janeiro: 1936.

Rio de Janeiro: 1936.

Paris: 1900.

Londres: 1900.

Exemplos do art nouveau europeu remanescente.

Belém do Pará: 1947 e 1949.



sexta-feira, 9 de maio de 2008

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Fotos e postais da Belém do Pará antiga.

As imagens deste videoclipe, que também está no Youtube (http://br.youtube.com/watch?v=4WJsjUrfIQI) para divulgação do nosso blog, serão melhor "degustadas" no modelo apresentação de slides - que tem a opção de visualização das legendas de localização -, linkado à direita; ou, submetidas ao download, já que as postamos como Galeria Pública no Picasa (que nome feio!): http://picasaweb.google.com/HaroldoBaleixe.



quarta-feira, 7 de maio de 2008

Belém de 1898: amostras.





Stella Pessôa discursa na APL.

Na última segunda-feira, dia 05 de maio, a escritora Stella Pessôa recebeu o prêmio do Concurso Literário Samuel Wallace Mac-Dowell da Academia Paraense de Letras - APL.
A abertura solene da cerimônia foi proferida pelo presidente da Academia, o imortal Edson Franco, que aniversariava. Após a composição da mesa pelas autoridades presentes, houve a entrega do prêmio, seguida pelo discurso da autora de "Mulher Com O Seu Amante", aqui postado no original em trebuchet.
Os nossos fotógrafos, diante da liturgia acadêmica, se apavoraram e não registraram porra nenhuma: são uns babacas!

O acadêmico João Paulo Mendes, Silvia Mendes, Hermínio Pessôa Júnior, Stella Pessôa, Vilma Falcão, Belisa Guimarães e Elizabeth Guimarães.
Raro momento capturado, já no cock-tail.
(foto: Isabela Pesôa)
O justo seria a Imortalidade da Academia!!!
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REFLEXÕES SOBRE CAUSAS E EFEITOS DA LITERATURA

Maria Stella Faciola Pessôa Guimarães
05/05/2008


“Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”.
É tempo de agradecer a honraria que a Academia Paraense de Letras me concede com o Prêmio “Samuel Wallace Mac-Dowell”.
Nesta Casa, tão especial, creio que devo agradecer falando de literatura – uma breve apologia de alguns autores e livros, porque gostar de literatura é aprender a viver.

(I) ----------

Começo a lhes lembrar de Dante em sua “Divina Comédia”, na busca da salvação.
Nos versos, Virgílio, poeta latino a representar a razão humana, acompanha Dante pelo Inferno e o Purgatório, até o limiar do Paraíso, quando então a companhia de Dante será Beatriz.
No Canto V do “Inferno”, aparece no trajeto de Dante e Virgílio um casal amoroso: Paolo e Francesca, cunhados adúlteros. Estavam no Inferno depois de mortos pelo marido traído. Dante quis explicações para os mútuos sentimentos de Paolo e Francesca. O esclarecimento dela sobre o adultério que os levou ao Inferno: liam juntos uma história de amor.
“Líamos um dia nós dois, para recreio
(...)
éramos sós, e sem qualquer receio.
Vezes essa leitura nos ergueu
olhar a olhar, no rosto desmaiado,
mas um só ponto foi que nos venceu.
Ao lermos o sorriso desejado
ser beijado por tão perfeito amante,
(...)
tremendo, a boca me beijou no instante”.
O que pôde e o que pode a literatura de Dante? O que deflagra a literatura!? Paolo e Francesca liam uma história de amor, liam sobre um beijo de amor. Envolvidos pela literatura, fizeram sua própria história de amor. Arrebatados pela literatura, beijaram-se como no livro. O que a literatura deflagra!?
O texto é fetiche? Como é tecido, pode ser urdido com fios de ficção e fios da vida, que se combinam magicamente numa escritura, cuja fruição Roland Barthes chama de “kama-sutra da linguagem”. Não se sabe quem é um, nem se sabe quem é o outro. Não se sabe o que é fantasia, nem se sabe o que é real.
O que pode a fruição da literatura!?

(II) ----------

Prossigo a reminiscência em torno dos livros: Cervantes e seu engenhoso fidalgo Dom Quixote.
Começa assim:
“Num lugar de La Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo... (...) Era rijo de compleição, seco de carnes, enxuto de rosto, madrugador, e amigo da caça”.
Pinço mais na frente o que me importa aqui da descrição de Cervantes:
“É pois de saber que este fidalgo, nos intervalos que tinha de ócio (que eram os mais do ano) se dava a ler livros de cavalaria, com tanta afeição e gosto, que se esqueceu quase de todo do exercício da caça, e até da administração dos seus bens; e a tanto chegou a sua curiosidade e desatino neste ponto, que vendeu muitos trechos de terra da semeadura para comprar livros de cavalarias que ler, com o que juntou em casa”.
Mais adiante:
“Em suma, tanto naquelas leituras se enfrascou, que passava as noites de claro em claro e os dias de escuro em escuro e assim, do pouco dormir e do muito ler se lhe secou o cérebro, de maneira que chegou a perder o juízo. Encheu-se-lhe a fantasia de tudo que achava nos livros, assim de encantamentos, como pendências, batalhas, desafios, feridas, requebros, amores, tormentas, e disparates impossíveis; e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação ser verdade toda aquela máquina de sonhadas invenções que lia, que para ele não havia história mais certa no mundo”.
Dom Quixote, louco?! Enlouquecido pelos livros?!
Vamos ler o professor Eidorfe Moreira:
“Considere-se, em primeiro lugar, que sempre que formos ‘sensatos’ ou ‘normais’, isto é, sempre que pensarmos e agirmos em termos de bom-senso, jamais ultrapassaremos a craveira comum, pois como ‘sensatos’ ou ‘normais’ nós nos realizaremos em função do meio em que vivemos, o que importa em dizer que ‘bom-senso’ é uma questão de adaptação”.
Prossegue o revolucionário Eidorfe:
“Só como ‘idealistas’, ‘loucos’ ou ‘visionários’ é que podemos nos realizar a nós próprios, como seres ou valores autônomos em face do meio, sem obediência a figurinos impostos por ele”.
Para Eidorfe, a figura esguia do herói cervantino se encurva e forma um sinal de interrogação, a mais expressiva incógnita da natureza humana.
O que fez a literatura com o engenhoso fidalgo!? Expressa a natureza humana tal qual um sinal de interrogação? Como a literatura tem impacto na natureza humana!? O que faz a literatura de Cervantes!? Explora aspectos fundamentais da condição humana?

(III) ----------

Um pouco da grandeza de Shakespeare. Como deixar de me referir a uma leitura clássica, impossível de ser interrompida, porque sobretudo discute a sempre atual inquietação do homem com sua finitude? Como não citar Hamlet e o abalo que produz em cada um de nós?
A querer resolver sua dramática questão de ser ou não ser, o príncipe da Dinamarca, na segunda cena do segundo ato, lê e medita no castelo, em ambiente cercado de livros. Questionado por Polônio – conselheiro de Estado – sobre o que estava lendo, respondeu com altivez:
“Palavras, palavras, palavras”.
Apenas esta resposta:
“Palavras, palavras, palavras”.
Que livro Hamlet estaria lendo? O que as palavras daquele livro, lidas mas não pronunciadas, fizeram em Hamlet!? Ajudaram-lhe a entender o ser humano? O que pode a literatura de William Shakespeare!? O que faz a literatura do famoso bardo!?

(IV) ----------

Agora, Dostoiévski. Escolhi novela estorvadora: “Memórias do Subsolo”.
Trechos muito chocantes:
“Além da leitura, não tinha para onde me voltar”.
“Um homem inteligente do século dezenove precisa e está moralmente obrigado a ser uma criatura eminentemente sem caráter; e uma pessoa de caráter, de ação, deve ser sobretudo limitada”.
“Juro-vos que uma consciência muito perspicaz é uma doença”.
“Esta é a convicção dos meus quarenta anos”.
“Foi por isso que tomei da pena”.
Mesmo que a expressão se refira ao século XIX – e já estamos no século XXI –, ela me arrepia...
Inteligência e caráter inconciliáveis!? A novela investe contra tudo e contra todos? Dostoiévski sentiu na pele? Ou pura ficção? Dostoiévski escreveu “Memórias do Subsolo” na cabeceira de morte de sua mulher numa situação de aguda necessidade financeira.
Para Italo Calvino, a literatura jamais teria existido sem uma forte introversão, sem um descontentamento com o mundo, tal como ele é, ou parece. Ultrapassar os limites impostos ao homem exige terríveis sacrifícios.
A travessia de Dostoiévski: fazer literatura, literatura de gênio, que inventa vidas para viver de algum modo. São possibilidades de salvação – para o escritor e para o leitor –, verdadeiros anticorpos que tentam coibir a expansão dos flagelos e das adversidades.
Hoje, no século XXI, o que pode a literatura de Dostoiévski? Ainda revolve os desvãos da alma humana? Mexe com o homem contemporâneo?
Octavio Paz justifica que a revelação de nossa condição é também a criação de nós mesmos. O mundo não está fora de nós, nem rigorosamente dentro de nós. Complexo... Será mesmo a literatura algo que o homem faz e, reciprocamente, faz o homem?
O que fez e o que faz em nós a literatura de Dostoiévski, onde tudo se transforma em sentimento e onde os sentimentos são promovidos à categoria de valor e de verdade? Literatura abalável!?

(V) ----------

Livros que abalam! Livros que perturbam! Nietzsche, filósofo que fez filosofia com cara de literatura, sabia disso:
“Conheço em alguma medida minhas prerrogativas como escritor; (...) a familiaridade com meus escritos ‘corrompe’ o gosto. Simplesmente não se suporta mais outros livros. (...) Mas quem comigo tem afinidades (...), experimenta nisso verdadeiros êxtases do aprender: pois eu venho de alturas que asa nenhuma cruzou, eu conheço abismos onde pé algum jamais se extraviou. Disseram que é impossível pôr de lado um livro meu – que eu perturbo inclusive o repouso noturno. Não existe em absoluto espécie mais orgulhosa e mais refinada de livros – eles alcançam aqui e ali o mais elevado que se pode alcançar na Terra, o cinismo”.
Quanto ainda a estudar da filosofia sofisticada de Nietzsche!? Ainda não desisti de entender o que falou Zaratustra:
“O homem é uma corda, atada entre o animal e o além-do-homem – uma corda sobre um abismo. Perigosa travessia, perigoso a-caminho, perigoso olhar-para-trás, perigoso arrepiar-se e parar”.

(VI) ----------

A travessia... E o tempo?! Sem me desligar dele, não posso deixar de louvar um escritor brasileiro – entre os que li e reli, o maior de todos: Guimarães Rosa.
Encerro com “Grande Sertão: Veredas”. Naquele sertão do tamanho do mundo, vejam o depoimento do Riobaldo que, ainda rapazola, foi dar aulas para o poderoso Zé Bebelo:
“O que ele queria era botar na cabeça, duma vez, o que os livros dão e não”.
Sob a orientação de Riobaldo, Zé Bebelo grudou nos livros. Noites a fio. Queimava três velas no escuro. Não olhava relógio. Dormia sobre os livros. Até aprender.
Sugiro que abram outra vez e outra vez “Grande Sertão: Veredas”. E avaliem a importância, nos rumos da obra, desse episódio entre Riobaldo, Zé Bebelo e os livros.
“Grande Sertão: Veredas” é para ser lido e relido a vida toda. Tem despertado inúmeros estudos, críticas, interpretações. Não há como não nos impactar. Eis o depoimento de Afonso Arinos:
“Cuidado com este livro. (...) É como certos casarões velhos, certas igrejas cheias de sombras. No princípio, a gente entra e não vê nada. Só contornos difusos, movimentos indecisos, planos atormentados. Mas aos poucos não é a luz nova que chega; é a visão que se habitua. E, com ela, a compreensão admirativa. O imprudente ou sai logo, e perde o que não viu, ou resmunga contra a escuridão, pragueja, dá rabanadas e pontapés. Então arrisca-se a chocar inadvertidamente contra coisas que, depois, identificará como muito belas”.
Por fim, digo-lhes que trago Rosa e fecho com Rosa até porque ele toca em questões que levantei antes e que alguns podem entender como sentimentos pessimistas de minha parte, especialmente pelos fragmentos que hoje escolhi de Dostoiévski e de Nietzsche.
Falava Riobaldo no “Grande Sertão: Veredas” para aquele indefinido senhor a quem dirige seu relato:
“Esta vida está cheia de ocultos caminhos. Se o senhor souber, sabe; não sabendo, não me entenderá”.
Isso mesmo, Riobaldo!? Para entender, é preciso saber? É preciso ter sentido? É preciso ter vivido? É preciso querer partir quando lhe queimaram os navios? É preciso ir ao fundo do poço, ou perto dele, sem saber se lucidez e loucura são a mesma coisa? Do ponto de vista do escritor ou do leitor? Para Gaston Bachelard, não há escritores, somente leitores. A leitura é de cada um.
Mas o Riobaldo não nos deixa sem esperanças:
“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.
Na esperança de Riobaldo, constato até uma certa concessão ao filósofo Kierkegaard e àquela fé que entra em cena quando cessa a capacidade da razão:
“Deus existe mesmo quando não há. (...) O mundo é longe daqui”.
Não tenho as “rabugens de pessimismo” admitidas por Machado de Assis no retrato de Brás Cubas. Não tenho aquelas “rabugens” porque creio no que crê Riobaldo:
“Deus existe mesmo quando não há. (...) O mundo é longe daqui”.

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“Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”.
É tempo de despedida.
Procurei agradecer a honraria que a Academia me concede falando a vocês da literatura. Entre aspas. Com muitas aspas.
Fico grata por ser tratada aqui com distinção e gentileza. O soberano tempo do “Livro do Eclesiastes” me faz encerrar.
Muito obrigada. Sem aspas.


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Discurso PROFERIDO EM SOLENIDADE DA ACADEMIA PARAENSE DE LETRAS, COMO agradecimento pelo Prêmio “Samuel Wallace MAC-DOWELL” CONCEDIDO AO LIVRO DE CONTOS “MULHER COM O SEU AMANTE”.