A chácara Bem-Bom, um retiro da época da borracha localizado às margens da estrada de ferro Belém-Bragança, atual avenida Almirante Barroso, desabou em junho de 1999. Nesse mesmo ano o prefeito Edmilson Rodrigues desapropriou o imóvel - toda a frente do terreno que se projeta à Almirante - e seu entorno próximo. O preço pago como indenização aos proprietários foi muito aquém do valor de mercado, o que os fez recorrer à justiça. Pelo que se vê nas imagens, de todo o entulho do desabe, nada foi aproveitado. Não houve cuidado algum com a memória patrimonial e sim a tomada de uma área nobre da Cidade por preço irrisório, justificada pela "preservação cultural" e "construção de um hospício".
Erro crasso se via na placa dessa obra: referia-se a Chácara Bem-Bom como Palacete Faciola. O Palacete Faciola tem outro endereço: Avenida Nazaré nº166, esquina com a Doutor Moraes. Se nem essa básica distinção houve, seria tolice acreditar que um projeto técnico fosse ao encontro da salvaguarda de um bem imensurável e obtivesse algum êxito.
O que efetivamente sobrou do Bem-Bom foram a fachada, os dois chafarizes laterais e uma soleira com ladrilhos hidráulicos que formam um desenho. Pelas fotos e vídeo vê-se que a imagem presente na soleira será ampliada e ocupará toda a área do piso do pavimento superior: uma síntese do nada preservado ou recuperado.
Na verdade munícipes e donos foram ludibriados: a Prefeitura Municipal de Belém induziu a opinião pública a acreditar em uma recuperação da Chácara Bem-Bom, mas, o que fez de fato: reservou um naco do enorme espaço que destinou ao "hospital psiquiátrico" para erigir um monumento estéril, que justificasse a apropriação indébita.
Há duas semanas, no final do mandato do prefeito Duciomar Costa, iniciou-se uma limpeza no local abandonado. Estamos de bubuia, só para ver em que bicho vai dar essa "finalização".
Ao contrário da febre das placas que marcou o governo petista, não há nenhuma informação pública que sinalize a futura utilização do Bem-Bom. O que é patente: reduziu-se a história de vida dos personagens que habitavam o lugar a dois salões inverossímeis.
O Bem-Bom parece (falta comprovar!) ter sido concebido com apenas um pavimento, a ampliação deu-se em outro momento, mais recente: o aditamento de um segundo andar comportara um corredor envidraçado e dois ou três quartos sobre a primeira e segunda salas (visitamos o lugar uns três anos antes do desmoronamento, mas não recordamos sua configuração exata).
Com o ruir só sobrou a fachada, que foi escorada para evitar acidentes com os passantes, contudo, nenhuma tecnologia parece ter sido eficaz em aprumar essa parede, já que a percebemos bastante inclinada à direita de quem a vê fontalmente.
Se alguém possuir imagens do Bem-Bom antes do desabamento ou das suas ruínas (antes da intervenção da PMB) mande para nós que as publicaremos.
O Bem-Bom fora uma chácara, portanto, a vegetação cercava a residência. Lá houvera um bosque projetado com árvores nativas e plantadas. Um dos argumentos técnicos do "processo de tombamento"* (anterior à desapropriação do Edmilson) que sempre atrapalhou as negociações da área, foi que o Bem-Bom se enquadraria, por suas características, no estilo Rocinha - típico do Pará e do Amazonas -, então, não se poderia dissociar a habitação do conjunto das plantas que cobriam o terreno.
Um sítio aprazível da Cidade transformou-se em uma caixa árida com a melancólica aparência de manicômio.
*Dispositivo cômodo à Prefeitura: desvaloriza o bem e mantém a cobrança do IPTU.
Imagens do telhado novo que hoje cobre o "Bem-Bom".
Montagem de duas fotos com pequena diferença angular que deforma visualmente o elemento vertical de ferro.
Essa escada e esse acesso não compuseram o Bem-Bom.
Vista angular buscando uma perspectiva de dois pontos: não há um terceiro ponto acima, é apenas a inclinação visivelmente gritante.
Imagem formada pelos ladrilhos na soleira do térreo, ela deverá ser reproduzida no piso do salão do pavimento superior. Na foto anterior dá para se ter uma idéia da preparação dessa estrutura receptora sobre o contrapiso, já com a presença dos moldes.
Fotos: Fachada inclinada no topo deste tópico: Ronaldo Moraes Rêgo. As demais: Haroldo Baleixe.
Videoclipe compacto do Bem-Bom, exclusivo do Blog:
Assista ao vídeo no Youtube:
Fotografias do Bem-Bom cedidas pela escritora Stella Pessôa, bisneta de Antônio Facióla:
( ( (Amplie-as com um clique!) ) )
Chácara Bem-Bom em 1916: Godiva, seu filho Antoninho e Antônio Faciola.
Chácara Bem-Bom em 1916: Antônio Facióla, seu filho Oscar, sua cunhada Godiva, sua filha Iná, sua esposa Servita, seu filho Edgar e a filha de Godiva: Violeta.
Interior do Bem-Bom em 1916: Edgar Facióla e figura ainda não identificada.
Interior do Bem-Bom em 1916: Edgar Facióla.
Antonio Faciola e seu filho Oscar.
Antoninho, Inah, Godiva, seu marido, Edgar e Violeta.
As duas última imagens foram acrescidas em 25/02/2010.
Baleixe, a proposta do teu blog é muito boa, mas ele precisa de algumas alterações para ficar mais usável.
ResponderExcluirNo mais, adorei o conteúdo.
Felicidades, novo blogueiro.
Eliane Pantoja
ResponderExcluirEu queria saber se ainda existem fotos dos comodos do palacete,mostrando um pouco os detalhes da casa como eram antigamente.
Cara Eliane Pantoja (Cristina):
ResponderExcluirHá mais fotos em "O cotidiano da Chácara Bem-Bom no início do século passado." postado neste blog: http://haroldobaleixe.blogspot.com/2009/10/chacara-bem-bom-fotos-do-inicio-do.html
Olá,muito prazer em encontrar este blog.Sou neta de Oscar Faciola e meu pai,Paulo Faciola filho do mesmo.Estamos mnuito felizes em ver tantas coisas sobre nosso passado.
ResponderExcluirVocê teria mais fotos ou informações sobre a história de nossa familia?Aguardo contato!
Marina Faciola
marinafaciola@uol.com.br
adorei o blog sou fascinada por historias antigas de belem
ResponderExcluirParabéns!
ResponderExcluirVendo as imagens, senti uma imensa saudade de um passado que não vivi, mas que é a história da minha cidade querida.