Reergueremos duas bandeiras antigas, ou para retomar as campanhas, ou para deixar registrado que o Pará é broxa e a águia guianense uma galinha.
E-mail endereçado ao Governador do Estado do Pará e à Assembléia Legislativa do Estado do Pará:
Dr. Almir, Cure o Nosso Tesão!
A bandeira brasileira protagonizou o espetáculo do penta, e isso é indiscutível — vide as imagens dos jogadores usando o mais popular símbolo nacional como manto. O tão místico e já modernizado uniforme amarelo sucumbiu à força de um velho pano costurado em novembro de 1889.
Quem copiou quem? Os atletas imitaram os torcedores, ou foi o contrário? Pouco importa. O sentimento de nacionalidade emergiu. Estávamos em “guerra”, vencemos, e a desforra, se houver, só daqui a quatro anos.
Terrorismo não nos preocupa: todos os alemães-bomba já explodiram.
Um símbolo vai mais longe que sua forma ou conteúdo, vale o que representa — esse arremesso geralmente se dá pelos ardis de um marketing (ideológico, político ou econômico-financeiro).
Hitler condenou ao degredo uma bem resolvida figura gamada: a cruz suástica. O que antes de Cristo representava felicidade, saudação e salvação; hoje nos remete às barbáries do nazismo.
Já o Felipão recorreu a um lema que precede a invenção do futebol: “Amor, Ordem e Progresso”. Ordem e Progresso fazem parte do pavilhão nacional. O Amor foi por conta e risco de um técnico “cabeça-dura” que se embebedou na fonte de Auguste Comte — o catecismo positivista: Amor como princípio, ordem como base e progresso como objetivo.
Mas doutor Almir Gabriel, e se nós tivéssemos um “Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais de Futebol”, como ficaria o nosso Pará, estrela de primeira grandeza, solitária no firmamento do Brasil na noite da Proclamação da República? Escolheríamos o estandarte do Payssandu ou o do Remo?
Fizemos parecido na adesão do Pará à Proclamação da República, quando tremulou o pendão do Clube Republicano Paraense. Esse mesmo distintivo transformou-se em bandeira municipal e depois estadual — a mesmíssima que temos hoje.
Render homenagem a duas marcas republicanas datadas, neste caso, não dói: Pará Clube e Assembléia Paraense. Já observamos que a significação é dinâmica e está muito além da realidade cronológica.
O malfadado detalhe é que a bandeira paraense é broxa, visivelmente impotente na sua compleição física.
Tudo bem, ela não é a única dentre as vinte e sete estaduais; por coincidência, ou não, a do Paraná também o é. Seria esse o motivo de confundirem Pará com Paraná?
Acre, Mato Grosso do Sul, Roraima, Rio Grande do Sul e Tocantins não têm essa disfunção eréctil. As faixas (ou "emendas") que elas ostentam estão no sentido vetorial positivo, tal qual uma função crescente de primeiro grau representada no plano cartesiano. Ou, para clarificar, semelhantes àqueles gráficos usados nas campanhas eleitorais que demonstram a plena ascensão de um candidato — remédio de efeito visual imediato.
A Lei nº 912 de 09 de novembro de 1903 sancionada por Augusto Montenegro cria o nosso Escudo d’Armas. Além de ratificar a doença presente no lábaro parauara desde 03 de julho de 1898, dá-lhe a dimensão angular de exatos 45 graus, para baixo, é claro — ou para o sul, como justificou, à época, o historiador e geógrafo Henrique Santa Rosa, evocando a trajetória da Espiga da constelação de Virgem, estrela mais brilhante do firmamento, sobre o território estadual.
Vossa Excelência tem que entender que ainda somos a Spica do Brasil e não a Ex.
Se estamos acima da “Ordem e do progresso”, só nos resta o “Amor”, e isso, invariavelmente, leva ao sexo. Se continuamos Spica Virginis, o problema está na bandeira, não na gente.
Consertar o nosso pendão não é tarefa das mais difíceis. Mande um Projeto de Lei à Assembléia Legislativa com estas justificativas. Eles serão sensíveis à causa, afinal de contas, a ausência de virilidade será sempre vista como coletiva (vai do miserável ribeirinho ao glamouroso governador).
O Felipão, através de uma proposição encontrada no passado da bandeira, criou o conceito fenomenal de “família Scolari”.
Nós paraenses, que há muito nos identificamos como “família Spica”, só precisamos da inversão de uma tirinha branca para ter opinião, um falo próprio — sui generis.
Uma banalidade subliminar que modificaria o nosso comportamento caboclo — seríamos mais espertos, como no tempo dos cabanos, quando essa simbologia nem sonhava em existir.
Mas se não der doutor Almir, tudo bem! Nem se aperreie!
A gente vai se contentando com a bandeirola de açaí que todo o mundo já conhece: vermelha, com flecha ligeiramente torta pra cima, evocando de modo sutil, o singular “aqui tem”.
E se assim o é, o Pará sempre foi, e sempre será, a verdadeira e única terra da Spica.
Belém, 03 de julho de 2002.
"Elucubrações* de Carnaval" publicado no Flogão em fevereiro de 2007:
*Elucubrações: a grafia "elocubrações" está incorreta na página acima, que você abrirá com um clique para ler o conteúdo.
Símbolo Masculino: virilidade em exatos 45º à direita.
Sugestão do Blog:
Inversão da bandeira do Acre preservando as cores republicanas e ampliando a estrela, agora branca. A faixa desaparece e o azul assume a área superior direita representando parte do firmamento e o rubro solo paraense (do ocaso) — essa junção propicia que a "costura" seja entendida como linha do horizonte, atenuando a negatividade da "função". De acordo com a intenção do autor da versão original: a trajetória da estrela é vista a partir do nascente — do leste. Com o ajuste aos 45º (também idéia do Santa Rosa), a nossa Spica estará tesa no céu do Pará, porque essa contraforça positiva da estrela de cinco pontas também anula o decrescer da linha — hipotenusa comum aos dois triângulos retângulos.
A bandeira original seria uma "planta" e esta proposta uma representação da percepção espacial tida pelo autor.
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