quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Segurança e escola pública em Belém do Pará.

Em um parágrafo da postagem "Os ridículos vereadores do Brasil" soltamos uma frase contundente:
"Acredite no papagaio e entregue o seu filho ao poder público. Foda-se você e o seu filho!".
Não nos desculparemos pelo dito. A verdade é uma lâmina de bisturi.
O post foi às 16 horas e 43 minutos do dia 25 de agosto de 2008 — segunda-feira.
Enquanto fazíamos as coreções on line, um jovem de 19 anos era assassinado em frente ao portão principal de uma escola pública estadual do Pará: o CEAM (Colégio Estadual Augusto Meira.).
O desmonte da escola pública brasileira se deu na década de 70 do século passado, quando a classe média fora obrigada pela Ditadura Militar a colocar seus filhos em escolas particulares, já que a reforma do ensino previa o curso de auxiliar técnico no 2º grau, não mais preparando-os ao ingresso às universidades (e ao raciocínio crítico), mas ao hipotético mercado de trabalho sem nenhuma competência ou habilidade prática para tal. Desde então a escola pública não é fiscalizada pelos ditos "formadores de opinião" —http://www.marioprataonline.com.br/obra/cronicas/prata000126.html.
Por mais que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm — tenha revisto a estupidez capitaneada pelo coronel-ministro Jarbas Passarinho, a classe média mantém-se amordaçada, de costas a um direito fundamental.
O cidadão brasileiro paga estratosféricos impostos sobre tudo e é obrigado a arcar com a própria (e dos seus) educação, saúde e segurança.
Saúde e segurança também foram desoneradas do poder público quando a mesma classe média optou pelos planos de saúde e segurança privada.
Não é difícil concluir que a classe média seja a única e exclusiva culpada por sua desgraça política.
Por mais que pudéssemos pagar estudávamos em colégios do governo porque à época escola privada era sinônimo de moleza para passar de ano. Nossos pais eram assíduos às reuniões com os mestres. A escola pública não era abandonada porque havia vigilância da família. Muito antes da existência do "carro popular", os estacionamentos eram lotados pelos automóveis dos professores — que bem cumpriam seus ofícios. Hoje esses estacionamentos, mesmo com a facilidade de financiamentos, estão reduzidos à meia-dúzia de vagas; quando existem.
O estudante morto era aluno daquela escola, bem localizada na capital paraense e merecedora de policiamento regular.
A Cidade precisa de policiamento inteligente e regrado em tempo integral — em pontos críticos e acríticos. Afinal, em sua campanha política, a candidata Ana Júlia Carepa levantou a bandeira da segurança pública para se eleger.
Nada saiu do discurso de campanha e a polícia definha, bem mais que em governos anteriores, em todos os aspectos.
No físico não há percepção de uma corporação estruturada e equipada. Ao contrário: vê-se que o necessário às operações policiais é uma sucata em franca decadência.
No psicológico ninguém dá crédito aos oficiais que em vez de fazer o trabalho para o qual foram academicamente treinados e são pagos, estejam de prontidão nas portas dos bares a pegar propina e fazer vista grossa à estúpida resolução que obriga esses estabelecimentos comerciais a cumprir horário — um vão escancarado à corrupção. Procure uma viatura da Polícia Militar do Estado do Pará entre uma e duas da manhã durante a semana e você a verá na frente desses botecos com seus ocupantes "merendando" — os territórios são fatiados pelas guarnições. No final de semana a coisa é mais leve porque há advogados, jornalistas, delegados e outras autoridades que intimidam essa "ação institucional" da PMPA, porque querem se divertir.
Bares e similares ganham dinheiro e podem pagar pela segurança privada, não carecem de babás recompensadas com dinheiro público e sim da liberdade para gerar emprego e renda — o único modo de reduzir a criminalidade sem paternalismo populista ou "popular" como quer ser intitulado o Governo Ana Júlia.

No Youtube encontramos uma postagem do grupo folclórico Cheiro do Pará, composto por alunos do Colégio Estadual Augusto Meira:

http://br.youtube.com/watch?v=SB-mCidezoQ

Postscriptum:

Durante o ano letivo de 1988 ministramos aulas de artes plásticas no Augusto Meira. O turno da tarde abrigava poucos alunos, uma média de 20 por turma, com maior poder cultural e aquisitivo. O turno da noite era populoso, mais de 60 estudantes por sala, na grande maioria subempregados: prostitutas que iam a caráter para um trottoir pós aulas; feirantes; camelôs; empregadas domésticas; toda a sorte de indivíduos que se empenhavam, mesmo cansados, em concluir o 2º grau para uma "melhoria" na qualidade de vida. O colégio tinha péssimas instalações, era uma verdadeira pocilga, por isso o vandalismo imperava. Se houve ganhos com as adaptações arquitetônicas e equipamentos didáticos, pelo visto, nada aconteceu para que uma filosofia de respeito à essa escola fosse implementada pelo Estado ou pela comunidade usuária. No ano de 1989 fomos transferidos, por permuta, para o antigo DEES/SD — Departamento de Educação Especial/Super Dotados; nada distinto do CEAM, mas com certa "autoridade" por termos ingressado na FEP/FAED — Fundação Educacional do Pará/Faculdade de Educação — e trabalhado com a diretora do DEES: professora Marly Fontenele. Apesar do ingresso por concurso público nas duas instituições de ensino, pedir exoneração de ambas, especialmente da SEDUC, após dois anos de trabalhos forçados (porque seria impossível o prazer) foi mais que sair do inferno! O melhor dia do resto de nossas vidas! Quem lá permanece (na SEDUC), mesmo como zumbi, deveria ser elevado à categoria dos heróis!

Um comentário:

  1. Caríssimo Haroldo, bom dia.

    Fui aluno fundador do CEAM, em 1965.Lá estudei 1º e 2º graus, ininterruptos,concluídos em 1972.Em 1982, retornei ao Colégio como professor de matemática, donde estou até hoje.Como profissional,e por não calar diante de todas as mazelas produzidas pelo descaso com a escola pública, fui alvo de perseguição política no período de 12/08/1994 à 21/11/1994, no "governo" oportunista e de troca de favores, do Sr. Carlos Santos.Mas o inferno continua hoje,com mais intensidade.O abandono é total.Vivemos uma democracia disfarçada,monitorada e de revanchismo.Do sucateamento provocado pelos "desgovernos" anteriores,e com a inércia do atual,estamos em ruínas,não só em educação,mas em todos os setores primordiais básicos de assistência ao cidadão.Educação,segurança,saúde e transporte.Bastava que o governante se ativesse nesses pilares para recuperar as décadas perdidas, sem ações concretas para a população.Entretanto,nenhum desses itens básicos parece não serem prioridades.Os projetos para esses setores, quando existem, são frágeis,não consistentes e, pior,idealizados por pessoas despreparadas dentro do próprio governo.A segurança na escola é tratada com "projetinhos" do tipo "Escola de portas abertas", com o intuito de inclusão do jovem em atividades que o afastem da marginalidade.Tudo em vão.O que se vê são delinqüentes frequentando a escola, regularmente matriculados, para dar informações para seus comparsas, sobre os possíveis alvos de violência dentro da própria escola.Pior de tudo, é que o propositor dos "projetinhos",como um paradoxo, confessa que ao sair de casa, "não sabe se retornará, com vida, e que já fora alvo de assalto".Talvez antes,a escola fosse um purgatório, no qual você descartou de imediato, mas hoje é algo pior que o inferno, acredite.Vivemos em constantes lutas pelos salários aviltantes,desmotivados,com sérios problemas neurológicos, sem vislumbrar uma luz no final do túnel, pois nem mesmo o cidadão de bem conseguimos mais formar.Urge a necessidade de toda a sociedade,incluindo-se aí, também, as classes mais abastadas,em rever suas posturas, no momento em que se calam e se fecham aos apelos de uma mudança partindo de uma discussão mais ampla sobre a questão da Lei da maioridade.Acredito que só um movimento social muito forte poderá mudar esse rumo trágico.Do contrário, não saberemos enxergar quais vão ser as conseqüências que vão além do limite entre a tolerância e a paciência.
    Att.
    Prof Mauro Arnaud Franco

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