quarta-feira, 8 de julho de 2009

Robin Wood às avessas.

O jornalista e sociólogo mocorongo Lúcio Flávio Pinto, referência intelectual ao jornalismo investigativo e à anásise crítica da Amazônia, foi condenado no dia 06 passado pelo juiz de direito, titular da 4ª vara cívil de Belém do Pará, Dr. Raimundo das Chagas Filho, a pagar 30 mil Reais aos irmãos Ronaldo Maiorana e Romulo Maiorana Júnior — membros da família proprietária do jornal paraense O LIBERAL — como indenização por danos morais causados pela "matéria jornalística" intitulada UM IMPÉRIO AO NORTE: O DE ROMULO MAIORANA escrita e publicada por Lúcio Flávio na edição Nº353 do JORNAL PESSOAL da 2ª quinzena de setembro de 2005.
O magistrado em sua sentença concede "O DIREITO DE RESPOSTA NA MESMA PROPORÇÃO DA OFENSA PERPETRADA PELOS REQUERIDOS PARA SER PUBLICADA NO JORNAL REQUERIDO." e dá "A TUTELA INIBITÓRIA NO SENTIDO DE PROIBIR QUE OS REQUERIDOS (Jornal Pessoal e Lúcio Flávio) VOLTEM A VEICULAR, NO SEU MEIO DE COMUNICAÇÃO, QUALQUER EXPRESSÃO AGRESSIVA, INJURIOSA, DIFATÓRIA E CALUNIOSA CONTRA À MEMÓRIA DO EXTINTO PAI DOS REQUERENTES E CONTRA AS PESSOAS DESTES, SOB PENA DE PAGAR MULTA NO VALOR DE R$ 30.000,00 (TRINTA MIL REAIS), SEM PREJUÍZO DE INCORRER EM CRIME DE DESOBEDIÊNCIA.", o que impõe ao editor do JORNAL PESSOAL um indefinido silêncio diante dos donos das ORGANIZAÇÕES ROMULO MAIORANA.
Em outras palavras: Lúcio Flávio Pinto ficou liso, leso e louco; principalmente com a MORDAÇA impingida pelo JUDICIÁRIO ESTADUAL.
30.000 Reais equivalem a um ano e meio do faturamento bruto do JORNAL PESSOAL que não veicula publicidade — fatia que perfaz 80% da receita de empreendimentos dessa natureza.
Abaixo transcreveremos, copiada do BLOG DO BARATA, a "OFENSA MORAL" de Lúcio Flávio à honra do patriarca dos Maiorana, motivo da CONDENAÇÃO mais divulgada e comentada nos blogs parauaras que o bizarro e espetaculoso enterro de Michael Jackson:
Não encontramos referência ao autor da foto.
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Um império ao Norte: o de Romulo Maiorana
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Escrevi este artigo, a pedido de Maurizio Cierici, repórter especial do L’Unità, de Roma, para o livro Favelas e arranha-céus, recém-publicado pelo jornal italiano na coleção Cadernos da América Latina. Dois dos seis títulos já lançados dessa coleção têm o Brasil como tema. O artigo foi solicitado em função da guerra judicial aberta contra mim pelos herdeiros do império jornalístico criado por Romulo Maiorana, um filho de italianos. Escrito para o leitor daquele belo país, o que mais amo depois do lugar no qual nasci, espero que interesse também ao leitor da minha querida cidade. E que leve os filhos de RM a refletir e acabar com esse mau hábito de criar suscetibilidades hiperinflacionadas, reagindo com selvageria sempre que alguém, tendo que falar sobre um passado ainda tão recente, mas já passado, reconte a história verdadeira – que, como tal, tem tanto de heróico e soberbo quanto de miserável e dramático em seu enredo real. Homens de carne e osso fizeram essa história. Não bustos impolutos ou fantoches caricatos. Que a boa pesquisa faça justiça a personagens históricos, sejam eles Magalhães Barata, Paulo Maranhão ou Romulo Maiorana. Certamente essas pessoas se tornaram marcantes porque o saldo de suas vidas foi positivo, superavitário. Do contrário, já estariam esquecidas.
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Em 1953 o rio Amazonas, o maior e mais volumoso do planeta, encheu como nunca. Suas águas caudalosas invadiram cidades e foram muito além de suas margens, criando um mar interior, ao longo de seu percurso, com 300 quilômetros de largura. Foi a maior enchente do século XX de um rio que lança ao Oceano Atlântico 12% da drenagem superficial de água doce do planeta Terra.
Foi esse o fato mais marcante de 1953. Ninguém registrou, na época, um fato que também teria sua repercussão específica – certamente muito menor, ainda assim significativa – na história contemporânea do Pará, o segundo Estado em extensão da Amazônia, o mais antigo, o mais populoso e o mais importante da região. Nesse ano chegou a Belém, a metrópole regional, situada na foz do Amazonas, numa ponta de terra às proximidades do mar, um pernambucano, filho de pais italianos, chamado simplesmente Romulo Maiorana.
Maiorana já estava com 31 anos, mas nada realizara até então de especial para merecer a atenção coletiva. Nascera em Recife, a capital do Nordeste brasileiro, estudara apenas até o segundo grau (chamado, então, de científico), e fora mandado pelo pai à Itália para estudar. Mas a guerra estourou e ele acabou sendo incorporado ao exército de Mussolini. Não foi para os campos de batalha, entretanto: ficou na retaguarda, como datilógrafo.
Finda a guerra, Romulo voltou ao Brasil. Não para Recife, mas para Natal, a mais importante base de operações dos Aliados em território brasileiro na Segunda Guerra Mundial, onde seus pais se haviam instalado. Sem perspectiva, decidiu tentar a sorte mais ao Norte. Belém, com pouco menos de 400 mil habitantes, vivia um período mais favorável nesse novo entre-guerras do que na fase de 1918 a 1939, quando entrou em crise profunda porque a principal atividade econômica regional (e a segunda base da economia nacional), a exploração da borracha, entrou em colapso por causa da concorrência asiática.
Romulo tentou alguns negócios comerciais, como fabricar placas indicativas de ônibus, flâmulas e painéis luminosos, antes de começar a montar uma rede de sete lojas de vestuário e calçados, que inovaram em vendas e marketing. Mas nunca deixou de escrever uma coluna social na imprensa, sua verdadeira paixão. Primeiro foi colunista em O Liberal, jornal fundado em 1946 para ser o porta-voz do partido mais forte do Estado, o PSD (Partido Social Democrático). O verdadeiro dono dessa legenda era o general Magalhães Barata, que surgiu na política como integrante do movimento dos jovens militares de classe média que faria a renovação do Brasil a partir da década de 20, o tenentismo.
Barata foi interventor federal no Pará em 1930, voltou a ser interventor durante a grande guerra e em 1953 era senador, preparando-se para disputar – e vencer – a primeira disputa como governador eleito pelo voto popular, em 1955. Seus maiores inimigos não eram outros políticos ou empresários, que não aceitavam seus métodos truculentos e a oligarquia criada em torno de seu poder pessoal. Quem mais o preocupava era um jornal, a Folha do Norte, fundado ainda no século XIX, e seu dono e principal redator, Paulo Maranhão, já então sexagenário, mas de estilo violento, demolidor.
O Liberal perdeu feio as escaramuças praticamente diárias com a Folha, o mais poderoso jornal do Norte do Brasil, mas Barata conseguiu voltar ao poder total, que perdera na eleição de 1950 para a Coligação Democrática Paraense, uma frente com quase todos os outros partidos. Além de escrever uma coluna no jornal de Barata, Romulo passou a namorar uma sobrinha do general, Lucidéia, mais conhecida como Déa, jovem muito bonita e muito comentada nas rodas da “alta sociedade” por seu modo de viver desafiador para a moral conservadora da época.
À sombra do caudilho, Romulo cresceu no comércio como nunca, não só através da multiplicação das Lojas RM, como pelo contrabando que se desenvolvia na cidade. Belém era, na época, uma espécie de Sicília. Vivia isolada do restante do país. Não dispunha de estradas de rodagem ou ferrovias para as comunicações com outros Estados brasileiros ou o exterior, que só podiam ser feitas por navio ou avião. Mas como estava às proximidades das Guianas (na época, sob o domínio da França, que ainda se mantém, da Holanda e da Inglaterra, que concederam a independência às suas antigas colônias sul-americanas), Belém se abastecia, sobretudo de bens duráveis (como automóveis) ou de consumo supérfluo (como bebida alcoólica e perfume), através de um comércio ilegal com seus vizinhos estrangeiros. O contrabando quebrava o isolamento e, ao mesmo tempo, enriquecia um grupo de empreendedores mais audaciosos – ou mais próximos do poder político, que daria cobertura às suas aventuras. Romulo fazia parte desse grupo.
Perspicaz, como demonstraria ser ao longo de sua vida, ele viu que esse tipo de comércio ficou com seus dias contados quando o “baratismo”, o sistema de poder construído em torno de Magalhães Barata, foi derrotado por um novo movimento militar eclodido no Brasil, em 1964, que depôs o presidente João Goulart e acabou com o populismo, o sistema nacional de poder estabelecido a partir do ditador Getúlio Vargas, um híbrido de autoritarismo político de elite com patronato econômico em favor dos desfavorecidos (Getúlio seria imortalizado como “o pai dos pobres”).
Romulo fechou abruptamente sua cadeia de lojas, famosas na cidade, e comprou, em 1966, O Liberal. O jornal já não era mais do PSD: fora adquirido por Ocyr Proença, um empresário que, embora vinculado ao governador cassado do vizinho Estado do Amazonas, Gilberto Mestrinho, iria apoiar a eleição de um dos militares que ingressara na política exatamente com o novo poder, responsável pela cassação de Mestrinho, acusado de corrupção. O coronel Alacid Nunes se elegeu governador, mas a participação de O Liberal fora tão pouco convincente como quando na fase do controle baratista.
O jornal tirava 500 exemplares em 1966 e sua credibilidade era zero. Romulo teve que emprestar dinheiro (de Armando Carneiro, um político getulista, que decidira trocar a política pela atividade empresarial para escapar à cassação, passando a atuar nos bastidores) e trabalhar dobrado para conseguir que a velha e precária impressora funcionasse, imprimindo sua nova mercadoria.
Como jogador de cartas que era, Romulo fazia seguidas apostas na sorte e na força de sua intuição, que complementavam sua audácia. Ele sabia que um fato importante criara um vácuo na imprensa com a morte, exatamente em 1966, do homem que dava vida à Folha, dona inconteste do mercado. Paulo Maranhão morreria aos 96 anos, levando consigo as chaves do sucesso do jornal que comandara durante mais de meio século. O Liberal tinha que entrar nesse vácuo.
Romulo seduziu os jornaleiros com propostas vantajosas e presentes para que apregoassem prioritariamente O Liberal. Dobrou as comissões dos “baderneiros”, os vendedores de rua. Oferecia jornais de cortesia. Renovava empréstimo, que não pagava, oferecendo permuta de publicidade, divulgando os nomes dos benfeitores. Em 1972, já consolidando sua liderança, deu um golpe mortal na concorrência: O Liberal foi o primeiro jornal do Norte a adotar o moderno sistema de impressão em off-set, que garantia rapidez e qualidade ao impresso. Dois anos depois, comprou a Folha, já decadente. Ao invés de tentar reanimar o glorioso jornal do passado, deu-lhe a extrema-unção. O Liberal é que devia ser o novo poder.
Confirmou-o quando, em 1976, inaugurou a TV Liberal, montada em apenas oito meses, para se tornar afiliada da TV Globo, que se tornaria a quarta maior rede de televisão comercial do mundo. Mas Romulo não pôde colocar a emissora em seu nome, embora fosse seu dono. Os órgãos de informação ainda mantinham em sua ficha a nódoa do contrabando. O regime militar ainda estava no movimento afluente do seu moralismo (o golpe de 1964 foi dado no Pará a pretexto de combater a subversão e a corrupção). Não concordava em transferir para alguém tido como ex-contrabandista uma concessão pública, o canal de televisão. Romulo teve que colocar a concessão no nome de cinco funcionários, reavendo-lhes a ação depois, quando seus serviços prestados ao governo haviam limpado definitivamente seu nome dos arquivos da “comunidade de informações”, o subsolo no qual funcionava um autêntico governo paralelo.
Pelos 10 anos seguintes Romulo não pararia mais de investir, crescer e expandir seu poder. Seu jornal se tornou o segundo maior consumidor de papel de imprensa do Norte e Nordeste, com tiragem em torno de 50 mil exemplares, quase dobrando aos domingos. De cada 10 leitores de jornal no Pará, quase 9 liam O Liberal, uma proporção sem igual no país na época. Seus outros veículos de comunicação eram, todos, líderes em seus respectivos setores. Com uma nota na coluna principal do jornal, que ele escrevia ou supervisionava, podia fazer o sucesso ou o desastre de uma pessoa, empresa ou governo.
Ciente do seu poder, ele parecia viver como se fosse eterno, o que justificava, embora de forma paradoxal, sua notória hipocondria. Fazia-o feliz quem lhe desse o “último grito” em remédios de presente. Quando morreu, em abril de 1986, aos 64 anos, de leucemia, ele estava comprando um novo e moderno parque gráfico para o jornal, em via de importação do Canadá, e equipamentos para as emissoras de rádio e televisão, além de montar um novo tipo de negócio, a produtora de vídeo.
Os sete filhos, que o sucederam, sob a presidência honorária da mãe, encontraram uma máquina azeitada, em pleno movimento e com um apreciável estoque de capital líquido, os elementos que respondem pelo poder sem igual que o grupo Liberal tem na história da imprensa do Pará. Mas que podem se tornar a causa de sua decadência, em futuro não longínquo, se faltar aos herdeiros algum dos componentes essenciais que levaram Romulo Maiorana a criar esse império amazônico.
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Postscriptum:
"Fale prof. Baleixe, blz
Lembra daquele nosso papo no atelier?
Fiquei d mandar uma coisa né?
O dono q eu ñ lembrava dessa frase q acho do caralho, 'Quem se desloca recebe, qm pede tem preferencia',
taí então nesse link: mms://streaming.net2.com.br/culturaondemand/videos/jornalpessoal20_23f2e.wmv
Abraço.
Leandro*."
*Leandro Costa é concluinte do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará.
O link em questão é um vídeo-reportagem assinado por Dimitri Maracajá e Liliam Norat sobre o jornalista Lúcio Flávio Pinto, conterrâneo de Leandro.
Copie e cole em seu navegador para assisti-lo.
Tempo total do audiovisual da CLÃDESTNO PRODUZIONES: 21 minutos e 57 segundos.

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