quinta-feira, 1 de abril de 2010

Guerrilha do Araguaia — a catinga do passado 2:

 

Ditadura é sinônimo de desgraça e pouco importa o estandarte; já a sua História é tão necessária quanto um mapa para encontrar o caminho de volta ao Estado de Direito, mesmo que TORTO como o nosso —  o principal ingrediente desse angu é o caráter das pessoas "doutas".
Na postagem anterior nos referimos aos "periféricos" mais velhos que conosco jogavam futebol. Eram pessoas humildes e ignorantes, tal qual os camponeses do Araguaia — presas fáceis a qualquer doutrina que jogue um pão à mesa.
Essa galera, desde novinha, tinha a obrigação de pegar no pesado. Estudo era coisa de pai granfino que podia aguentar o longo prazo do investimento educacional.
Uma família  “assava” um médico e um bedel no mesmo forno — caso o primeiro, por abnegação, desonerasse o gás butano.
Foi nesse cenário que os nossos "anti-heróis" se conformaram: como "...soldados armados, amados ou não; quase todos perdidos de armas na mão...” porque lhes ensinaram uma “...antiga lição: de morrer pela pátria e viver sem razão..."
Aceite nas forças armadas era garantia de casa, comida e roupa lavada. Esculacho de sargento; cantoria, se comparado às humilhações praticadas pelo analfabeto genitor "senhor de escravos".
Um garoto de dezoito anos caindo no campo de batalha do Araguaia já deixava a mãe, por procuração, garantida contra as atrocidades domésticas.
Na primeira ida, talvez 1972, nos falaram da pesadíssima barra: encontrar companheiro esticado em árvore de braços e pernas abertos sem órgãos internos e genitália —  nos impressionávamos aos 10 anos, por mais que fossem apenas histórias de escrotos que ficavam cada vez mais e mais escrotos com esse “aprendizado”.
Jogamos duas ou três partidas em três anos ininterruptos: os caras ralavam lá pelo mato.
Parece que era um na força e dois no mercenarismo "lucrativo" — sem “carteira assinada”, claro, mas com grana de "encher os olhos" e hábitos viciantes.
Do mesmo modo que não se reclama a morte de um camponês no Araguaia, não se reivindica o paradeiro desses vassalos da ideologia patriótica incutida pelas patentes privilegiadas.
Se foram enterradas batatas nos seus caixões baratos, ninguém soube ou saberá; o Brasil, em especial o cinturão miserável de Belém do Pará, os tinha como lenha suficiente à caldeira do "triturador" de corpos.
Tudo é um delírio da memória infantil, inclusive apostar na dinâmica da clandestinidade institucional dos Três Poderes de então: Exército, Marinha e Aeronáutica.
Sabíamos que nossos vizinhos peladeiros saíam do país* para comprar armas e construir rota convincente à infiltração; vida estúpida, pura barbárie.
Tal qual o rapto que presenciamos de um colega de colégio que tocava e cantava, por súplica coletiva, PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES, sabida “proibida” em 1978 neste "foco" territorial "comunista". Esse, ao contrário dos desaparecidos políticos, voltou deprimido e enforcou-se na casa dos pais.
Entre mortos e feridos todo mundo se fodeu; inclusive o Nivaldo Mello de Oliveira Dias, que em 1981 declarou-se contrário ao atentado do Riocentro: botaram-lhe um pijama.
Com a filosofia Big Brother os pernas de pau em breve estarão "Caminhando e cantando e seguindo a canção..." — as fotos são o prenúncio de que há muito a dizer e mostrar.
Que o Governo mantenha o parlatório escancarado até o fim de nossas vidas.

*Não era claro o conceito geográfico de país, poderia ser o próprio estado do Pará. 

Um comentário:

  1. é de responsabilidade do governo brasileiro.a localização da cova coletiva.e certamente em fim
    as honras funebre pos morte,aos que morreram por uma causa justa.a liberdade e direitos iguais ao povo brasileiro.e que nosso passado recente de crueldade fique apenas na lembrança pra nunca mas voltar.

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