O polêmico engenheiro estadunidense Percival Farquhar obteve concessão para explorar o porto de Belém por itermédio da Port of Pará Co. (Decreto Nº6.283 de 10/12/1906). A retirada dos antigos trapiches melhorou as condições de exportação da borracha e a APARÊNCIA da Cidade. Com o poder aquisitivo em alta, importar “coisas do mundo” tornou-se lema e Farquhar controlava os investimentos extenos por estas bandas do planeta. Implementar máquinas e equipamentos transferira mão-de-obra estrangeira especiazada que se encantou pela ilha do Mosqueiro — principalmente os ingleses da Pará Electric Railways Company. Belenenses endinheirados aderiram à moda, pois o ar dali “tudo curava”. Rota obrigatória dos altivos capitalistas Fazendeiros do Marajó que abasteciam de "carne verde" estas cercanias de mercado afogueado.
O Mosqueiro do início do século XX já se desenhava como cidade dormitório. A estrada e a travessia de balsa encurtaram a distância à ilha — na realidade o tempo. A ponte Sebastião Oliveira, inaugurada em 1976, consolidou o processo de conurbação desassistida.
Os seqüenciais abandonos políticos transfiguraram o GLAMOUR de Mosqueiro em pura FAROFA — uma fanfarra público-administrativa que não dotou a ilha da infra-estrutura necessária por mais de duas consecutivas décadas, perdurando a NEGLIGÊNCIA GENERALIZADA, ora focalizada na INSEGURANÇA e na POLUIÇÃO SONORA.
O relaxamento do poder instituído levou Mosqueiro à borda da banca-rota.
A não LIQUIDAÇÃO da ilha é devida a novos heróis: pessoas que passaram a habitá-la na busca da QUALIDADE de vida: fazendo dela CIDADE DORMITÓRIO (ÍNSULA DORMITÓRIO) ou lá residindo e trabalhando.
Hoje se vai à Pracinha da Matriz em dia qualquer e se vê famílias em rodas de cadeiras de praia sobre o gramado a conversar e tomar vinho — uma espontânea re-europeização.
Mosqueiro tem gente aguerrida disposta a COMPRAR BRIGA por ela. Não são somente os caseiros do dia-a-dia e os “donos” em férias. Há CIDADÃOS em tempo integral exigindo das autoridades o justo bem viver pelo qual paga-se densos impostos.
Um ex-andarilho curitibano que se apaixonou pela ilha em tempos idos resolveu voltar e investir no balneário, daí “LAMBRETTA 62” — um restaurante requintado à beira-mar de água doce do Chapéu Virado. Walter Lambretta (Lambretta virou seu sobrenome) imprimiu outro padrão de comportamento empresarial naquela orla esculhambada — é impossível encontrar adjetivo distinto. Walter ("Ualter") tem, pelo ato de demonstrar o correto, mudado comportamentos estúpidos de donos de outras barracas na beira da praia. Qualquer refeição antes de servida tem seus pratos e talheres lavados com álcool na frente do freguês. Os dois sanitários, assépticos, são abertos a partir das chaves dependuradas com "fita" azul e vermelha às vistas dos funcionários de escolaridade definida; feito que além de identificar de pronto “ELE” e “ELA”, impede o descontrole do privado. As músicas são selecionadas: aprecia-se raridades audíveis em decibéis inferiores ao normatizado (e não obedecido) e se pode conversar. Há uma carta variada de drinks (bebidas quentes): rum jamaicano, cubano, porto-riquenho, scott, conhaque, vodca, curaçau, anis...tal qual nos melhores bares de Belém. Vinícolas chilenas apresentam seus rótulos em baldes verdes; aliás, tudo por lá tende ao musgo, talvez um contraponto inconsciente ao vermelhão das mesas da nossa Cerpa, que não é exclusiva: há Brahma, Skol, Boêmia, Novaskin, Devassa, Antarctica, etc. A comida é suficiente e de paladar. São aceitos cartões de crédito e débito ao pagamento das contas com preços honestos. Tudo isso convivendo com uma decoração quase temática assinada pelo próprio empreendedor paranaense de manias essenciais.
Um paraíso, à semelhança do entorno natural, que lota com clientela preferencial às reservas das mesas pelo telefone 3771-1156.
Que o “Ualter” seja um novo Percival (no melhor sentido) e provoque uma migração (ou até imigrações) capaz de promover a ASSIMILAÇÃO do melhor viver.
Ou que pelo menos DEUS o proteja da ACULTURAÇÃO nefasta, já que há nativas suficientemente capazes de excitar um conturbado XODÓ.
Exemplares de veículos antigos que decoram e funcionam, todos no mesmo tom de verde.
A placa da barraca reproduz, no entalhe em cedro-mogno, a marca italiana Lambretta, mais o ano de nascimento do proprietário: 1962.
Álbum ampliável.
Fotos: Bárbara Baleixe.
Postscriptum:
Ponto Positivo: 1. Retiraram as sobras de duas lombadinhas, daquelas salientes feitas de concreto pelos próprios moradores da localidade para parar os veículos e vender os produtos sazonais e, em horários mais ermos, facilitar a abordagem em assaltos. Localização: entre o primeiro quebra-molas pós ponte e o posto da PM (sentido Belém-Mosqueiro).
Pontos Negativos: 1. Os automóveis que possuem sonoros poderosos que nos ensurdecem com as piores desgraças musicais. Esqueça o 190 ou DEMA, PRA NADA SERVEM. 2. Se for passar as férias leve um vira-lata ou, se confiar, agarre-se ao do caseiro, pois os DESCUIDISTAS já estão de plantão, ocupando a lacuna do trabalho polícial que pagamos religiosamente, mas só o veremos em caso de milagre ou pressão do bispo. Saldo do final de semana: uma mochila com celular, dinheiro, documentos e roupa tomou chá de sumiço; ficaram só as pegadas do gatuno. Proporção do fato inusitado: 1/6 (um caso entre seis indivíduos). 3. Os preços começaram a ser majorados portanto, prepare a comida em casa. 4. ATENÇÃO: A estrada não está UM TAPETE como dizem. Está REMENDADA como sempre. O resto todos descubriremos por lá!